Esqueça a economia. Se o assunto é Brasil, o importante é a política

Por Filipe Pacheco.

Foram-se os dias em que as decisões de investidores com foco no Brasil se baseavam em relatórios econômicos e em balanços de empresas. Mais do que nunca, gestores estão mais propensos a esmiuçar as manchetes dos jornais nacionais para acompanhar os últimos acontecimentos políticos.

O mercado está ávido por cada novidade vinda de Brasília, em um momento em que a presidente Dilma Rousseff luta por sua sobrevivência política diante de um Congresso que trava as medidas de austeridade tidas como necessárias para evitar o rebaixamento da classificação de risco do país de volta para o grau especulativo. As notícias sobre projetos de lei engavetados, negociações de bastidores e o amplo escândalo de corrupção que se aproxima cada vez mais da própria presidente têm sido mais que suficientes para desencadear reações em negócios com o real, com os títulos de dívida do país e com as ações.

“Eu gostaria de ter formação em Ciência Política”, disse Will Landers, um gestor de recursos que ajuda a gerenciar US$ 2,7 bilhões em ações latino-americanas na BlackRock Inc. “Temos que continuar seguindo o noticiário de perto e tentar interpretar o que ele quer dizer para potenciais passagens de reformas, leis necessárias para o ajuste fiscal”.

O contexto tem levado a uma expansão nos negócios de firmas de assessoria política como a Eurasia Group e a Arko Advice. A Eurasia, que tem cinco analistas políticos focados na cobertura do Brasil, está contratando para as unidades de São Paulo e Nova York, disse Bruno Reis, diretor da empresa no país. A Arko abriu uma filial em Londres no ano passado e viu um aumento de 25 por cento no número de clientes em 2015, disse Lucas de Aragão, sócio da empresa com sede em Brasília.

“Estamos recebendo uma enxurrada de perguntas de todo o mundo: algumas são dúvidas muito genéricas a respeito do impacto no crescimento, enquanto outros clientes querem detalhes específicos sobre um possível processo de impeachment”, disse Aragão, de Brasília. A complexidade do governo do Brasil torna “difícil para os brasileiros de São Paulo ou do Rio entender o que está acontecendo. Para os estrangeiros então, é um desafio ainda maior”.

Tributos a acionistas

No dia 18 de agosto, o índice de referência Ibovespa oscilou de uma perda de 1,2 por cento para um ganho de 0,5 por cento após notícias que diziam que um projeto de lei para tributar dividendos de empresas havia sido engavetado. No dia 7 de agosto, o real caiu 1 por cento em apenas dois minutos antes de se recuperar novamente em meio a relatos de que o vice-presidente Michel Temer deixaria a função de articulador principal de Dilma no Congresso. E no dia 16 de julho notícias de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria incluído na investigação desencadeou uma onda de vendas no real.

A Loomis Sayles Co., com sede em Boston e que tem US$ 242 bilhões sob gestão, incluindo bonds e ações do Brasil, neste ano contratou duas firmas de consultoria política e outra que monitora redes sociais para acompanhar postagens no Twitter e em sites em busca de qualquer menção a palavras-chave como “impeachment”. José Tovar, CEO da ARX Investimentos, com sede no Rio de Janeiro, que tem cerca de R$ 11 bilhões em ativos, disse que também tem conversado com analistas políticos diariamente.

“É preciso muita criatividade para analisar o Brasil atualmente”, disse Bianca Taylor, analista de títulos soberanos do Brasil da Loomis Sayles. “O cenário político é o foco principal”.

Notícias ruins

A perspectiva para a economia do Brasil é tão ruim que os traders precificaram a maior parte das notícias negativas. O índice de ações Ibovespa despencou 52 por cento em dólares nos últimos 12 meses e a moeda caiu 38 por cento. Além disso, o desemprego é o mais alto em cinco anos, a inflação supera a faixa-meta definida pelo Banco Central há sete meses consecutivos e a pesquisa do BC com economistas mostrou que o Brasil caminha para sua recessão mais longa desde os anos 1930.

A recuperação da crise depende, em grande parte, da capacidade de Dilma de aprovar medidas fiscais em um Congresso dividido.

Estar a par de cada acontecimento em Brasília tem dado “muito trabalho”, disse Reis, da Eurasia. “Entender de política se tornou obrigatório para entender o Brasil”.

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