Esqueça a política, compre títulos corporativos, diz Patrik Kauffmann da Solitaire Aquila

3-31-2016 9-34-19 AM

Os títulos corporativos e quase-soberanos brasileiros oferecem o melhor valor na América Latina, diz Patrik Kauffmann, gerente de carteira de renda fixa da Solitaire Aquila. O gestor de 30 anos, administra US$ 500 milhões, 18 por cento desse valor no Brasil, parte de uma carteira de US$ 11 bilhões, disse à Andre Soliani, do Bloomberg Briefs, em uma entrevista em 14 de março.
 
 
P: Onde é o melhor local para investir na AL?
R:
Olhe para o Brasil. Há milhões de manchetes negativas, mas se você olhar para os fatos, verá o resultado como positivo. Um exemplo é a Embraer, que é a quarta maior fabricante de aviões do mundo, com quase nenhuma dívida. Você tem 6 a 7 por cento. Por que eu deveria comprar um título da YPF em 8 por cento, se eu consigo um crédito muito mais forte com a Embraer?

P: O que os investidores estão perdendo?
R:
Os investidores estão agora com muito medo das notícias que saem do Brasil. Todos os dias há uma notícia sobre alguém indo para a cadeia. Mas eu gostaria de destacar que o sistema está realmente funcionando. Isso é uma coisa boa. Isso não é negativo.

P: Onde está o valor?
R:
Estive bullish no Brasil por um tempo. O mercado de títulos tem sempre o mesmo padrão. Quando a notícia negativa vem de fora, há um rebaixamento do rating, você vê uma reação exagerada nos preços dos títulos. O mercado era totalmente exagerado. Este ainda é o caso. Ainda há espaço para uma diminuição nos rendimentos.

P: Quão baixo eles podem ir?
R:
Em soberanos você tem que ver que a dívida externa é muito baixa. É como o Japão, quase toda sua dívida é em moeda local e ajuda muito – mesmo se a sua dívida em relação ao PIB seja um pouco maior do que outros países da AL. O Brasil está exportando mais do que importando e tem uma enorme reserva de moeda estrangeira. Eu não vejo como o Brasil poderia ter problemas para pagar a sua dívida. O Brasil deveria negociar na região, e fazer igual a Colômbia que está negociando.

P: O que você está comprando no Brasil?
R:
Vemos mais valor em empresas e quase-soberanos. Eu não vejo por que eu deveria comprar o soberano brasileiro, se eu posso comprar BNDES e obter um bom spread. Uma empresa fantástica que eu já citei é a Embraer. Outra é a Brasil Foods: expandiu suas margens com a depreciação do real. Se você comparar com a Nestlé e Mondelez, tem níveis de dívida mais baixos, tem um balanço forte e margens maiores.

P: O que mais?
R:
Há empresas que estão sob investigação em que os spreads são enormes. Um grande exemplo é JBS. É uma empresa muito bem gerida. No final do dia, todas essas empresas, muito provavelmente, terão de pagar uma multa, ou terão algum tipo de penalidade. Mas o governo brasileiro tem um forte interesse em deixá-las sobreviver. Eu comprei alguns títulos da Odebrecht. É a maior empresa de construção da América Latina.

P: Você prefere bonds em euro ou dólar?
R:
Eu não corro riscos cambiais. O que fizemos foi um pouco em reais, porque o real está compensando. Nós não sabemos onde vai acabar. Mas se você receber 16 por cento de rendimento em um nome sólido, você pode correr esse risco.

P: Qual sua opinião sobre rating? Brasil é junk e Colômbia não.
R:
As agências de rating muitas vezes estão olhando a tendência. E nesse momento a tendência é negativa. Há um sentimento negativo de que os políticos não estão fazendo nada para reduzir o déficit fiscal. O Brasil deveria ser um país com um grau de investimento bom.

P: E a crise política?
R:
Se acontecer um impeachment ou um novo presidente for eleito, é muito difícil atrair um processo de investimento. A verdade é que ninguém sabe. Nós nos concentramos em comprar nomes, empresas, títulos que têm bons fundamentos, com ou sem impeachment.

P: Qual sua opinião sobre Argentina?
R:
O presidente Mauricio Macri certamente não será capaz de atingir 100 por cento do que ele deseja fazer. Tome como exemplo os títulos da YPF. Eles produzem cerca de 7-8 por cento. Se você olhar para os indicadores de crédito, eles são muito mais fortes do que os da Petrobras ou Pemex. Mas as obrigações da Petrobras estão rendendo muito mais do que YPF. É preciso haver uma série de melhorias na Argentina para justificar os níveis de títulos da YPF. Eu não sou tão otimista.

P: Qual o seu preço justo para a Argentina?
R:
Estamos falando de 8 por cento atualmente nos soberanos, os maiores. Se olharmos para classificações, deve estar na gama de 10 por cento. Mas é difícil dizer o que é um rendimento justo. Se as coisas forem entregues você verá rendimentos mais baixos. Se não for esse o caso, haverá uma venda.

P: Você está comprando Venezuela?
R:
Comprar lá e esperar ser pago é o mesmo que ir a um casino.

P: Investidores estão otimistas no México.
R:
O México tem sido muito caro durante o mandato do [presidente Enrique] Pena Nieto. Agora, isso foi corrigido. Se ele corrigir um pouco mais, ele começa a ficar interessante. Em uma base de baixo para cima, tenho alguns credores de microfinanças, porque eles têm baixos crédito vencido, que têm margens agradáveis. O México e o Brasil são provavelmente os mercados mais rentáveis para as instituições financeiras em todo o mundo.
 

Agende uma demo.