Está cada vez mais difícil para traders de câmbio ganharem dinheiro, afirmam veteranos do mercado

A cada dia fica mais difícil ganhar dinheiro no mercado de câmbio, avaliado em US$ 5,3 trilhões, pois as variações de preços, que antes levavam meses ou semanas para ocorrer, hoje acontecem com mais rapidez, diz Hugh Killen, chefe de negociação de moeda estrangeira, renda fixa e commodities da Westpac Banking Corp.

A liquidez está se esgotando porque investidores e bancos estão se esquivando do risco, e isso gera reversões mais rápidas e acentuadas na moeda, comentou Killen, cuja carreira no mercado financeiro ultrapassa 27 anos, ocupando cargos em Sidney, Londres e Nova York. Enquanto a volatilidade – que normalmente ajuda os traders a lucrarem com flutuações de preços – aumenta desde 2014, a circulação em outubro caiu para o nível mais baixo em três anos no Reino Unido, principal centro de negociação de moedas. A redução dos volumes ocorreu depois que uma série de surpresas nas políticas agitou os investidores, entre elas a elevação do limite de câmbio do Banco Nacional Suíço, a desvalorização do iene na China e a inesperada flexibilização do Banco do Japão.

“Antes eram necessários meses ou semanas para os preços ajustarem-se, e hoje isso acontece muito rápido”, afirmou Killen, de Sydney, onde atua desde 2001 no segundo maior credor da Austrália. “São esses tipos de movimento que estão criando um pouco de estresse e, seja qual for o capital de risco empregado, pode ser eliminado com muita rapidez.”
 
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Um caso de destaque é o iene: em 29 de janeiro, a moeda japonesa apresentou a maior queda em mais de um ano, depois que o presidente do Banco do Japão Haruhiko Kuroda inesperadamente adotou taxas negativas. Desde então, a moeda subiu mais de 6 por cento, o maior avanço mensal desde 2008. Da mesma forma, o euro obteve um ganho semanal de 3 por cento ou mais em três ocasiões desde o início de 2015, e caiu em mesma proporção por cinco vezes. Não houve movimentos comparáveis nos três anos anteriores.

“Agora estamos começando a atuar muito nos extremos dos intervalos, e o que quero dizer com isso é que o mercado não só reverte, como volta para o outro lado do preço com muita rapidez”, disse Killen. “Portanto, nós realmente temos essas forças opostas entre os intervalos.”

O iene foi negociado a 113,02 por dólar, depois de valorizar para 110,99 em 11 de fevereiro, o nível mais forte desde outubro de 2014. A volatilidade implícita de três meses escalou dois anos e meio no dia em que o iene atingiu o pico, enquanto os traders digeriam o movimento de quase 10 por cento desde a queda para 121,69 de 29 de janeiro.
 
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A moeda comum da Europa foi comprada a US$ 1,0924, subindo 3,8 por cento após cair por quase oito meses em dezembro.

A diminuição da liquidez – ou a perspectiva de sua escassez em momentos de estresse – dominou as discussões na conferência TradeTech FX em Miami, quando os gestores de fundos buscaram respostas para uma série de quedas acentuadas que atingiu os mercados de câmbio nos meses recentes.

Botão de pânico

Durante períodos de volatilidade, os atuantes do mercado retiram-se até que as condições voltem ao normal, afirmou na conferência Collin Crownover, chefe de gestão de câmbio da State Street Global Advisors Inc., que supervisiona cerca de US$ 2,4 trilhões. “Grande parte da eletronificação do mercado, de longe uma coisa boa, gerou botões de pânico em grande parte dessa liquidez gerada por algoritmos.”

A circulação média diária no Reino Unido caiu 21 por cento em outubro em comparação com o ano anterior, ao passo que os volumes na América do Norte diminuíram 26 por cento, de acordo com os bancos centrais das duas regiões. Uma avaliação da volatilidade realizada pelo JPMorgan Chase & Co. elevou seu nível este mês para o mais alto em quatro anos, mais do que dobrando em relação às quedas sem precedentes verificadas em meados de 2014.

Ao mesmo tempo, a queda das receitas na negociação de moedas e o aumento dos custos causado pelas mudanças regulatórias forçaram os bancos a se voltarem para o aumento da automação e o corte de pessoal. Havia 2.300 pessoas empregadas no front-office do mercado de câmbio dos maiores bancos mundiais em 2014, uma queda de 23 por cento na comparação com a realidade de quatro anos antes, segundo a empresa de análises Coalition Development Ltd.

“O mercado de câmbio continua se automatizando rapidamente, reagindo à tecnologia revolucionária e à regulamentação”, comentou Killen. “O impacto positivo é que os atuantes podem fazer hedge e acompanhar os movimentos do mercado com muito mais eficiência do que quando as corretoras eram em grande parte analógicas.”

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