Por Ben Steverman.
Os EUA são o lar de uma classe trabalhadora que sofre com a estagnação salarial e com a queda das perspectivas de emprego — dificuldades generalizadas que ajudaram a eleger o republicano Donald Trump. A riqueza relativa dos americanos em todas as faixas etárias continua caindo, em comparação com as décadas anteriores.
Ao mesmo tempo, o país também é o lar de uma quantidade sem precedentes de riqueza, uma divergência que tornou comum a expressão desigualdade de renda. Os EUA têm US$ 55,6 trilhões em ativos financeiros privados e muito mais milionários do que qualquer outro país. Hoje, mais de 8 milhões de famílias têm ativos financeiros de US$ 1 milhão ou mais, sem contar casas ou bens de luxo, de acordo com a Boston Consulting Group. De 2010 a 2015, surgiram 2,4 milhões de milionários. Outros 3,1 milhões surgirão até 2020, estima o BCG, a um ritmo de 1.700 novos milionários americanos por dia.
Mas antes que você recupere sua fé na mobilidade ascendente, observe um detalhe: os americanos mais velhos possuem uma fatia desproporcional de todos esses trilhões e estão passando-a aos filhos, que já são ricos, na maior transferência geracional de riqueza da história.
A herança é um motor cada vez mais significativo da riqueza nos EUA. Amplos segmentos do país vivem de mês a mês, sem praticamente nenhuma poupança. Cerca de três quartos do país são “batalhadores”, que não conseguem economizar nada de um ano para o outro, concluiu o Federal Reserve de St. Louis em um estudo no ano passado. O restante da população, no entanto, é composto por “prósperos”, afirmou o Fed de St. Louis — pessoas que conseguiram economizar dinheiro e acumular riqueza ao longo dos anos. Esse grupo inclui o 1 por cento mais rico, que foi ficando, de maneira contínua, com uma parte cada vez maior da produção econômica do país.
A verdadeira riqueza agora está concentrada nos 2 por cento mais ricos da população, entre os que Stephen Rose, especialista do Urban Institute, classifica como os americanos ricos (aqueles que ganham US$ 350.000 ou mais). Essa parcela cresceu ainda mais rapidamente que a classe média alta nos últimos 35 anos, de acordo com seus cálculos. Alguns desses americanos endinheirados são empreendedores, já que neste mundo globalizado as recompensas do sucesso podem ser enormes, especialmente em áreas como tecnologia e finanças.
Outros simplesmente nasceram com sorte, ou seja, herdaram o dinheiro. Mais da metade dos investidores dos EUA com mais de US$ 25 milhões afirmou que a herança foi um fator de peso em sua riqueza, de acordo com uma nova pesquisa da Spectrem Group, uma empresa de consultoria especializada em pesquisas com ricos. Entre essas pessoas, a impressionante proporção de 73 por cento com até 50 anos de idade disse que a herança foi um fator de peso.
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