Por Filipe Pacheco, Selcuk Gokoluk e Ben Bartenstein.
Alguns analistas estão dizendo que a previsão de receita da Arábia Saudita para 2019 é surpreendente porque estimam que ela esteja baseada em um preço relativamente alto do petróleo.
O plano desafia “as leis da aritmética”, disse Ziad Daoud, economista-chefe da Bloomberg Economics para o Oriente Médio em Dubai. As projeções do governo podem estar baseadas em um preço do petróleo bruto de até US$ 80 por barril em 2019 e o barril teria que subir para US$ 95 para equilibrar o orçamento, disse ele. O petróleo bruto Brent era cotado a cerca de US$ 56 por barril nesta quarta-feira.
A reação imediata dos investidores em ações é fraca e o principal indicador saudita caiu nesta quarta-feira. O rendimento de US$ 5 bilhões em títulos da Arábia Saudita com vencimento em 2028 subia cinco pontos-base, para 4,31 por cento.
“É improvável que a retirada de subsídios preencha esse déficit. Isso obriga o governo a fazer uma escolha — reduzir os gastos e aceitar um crescimento econômico mais lento ou não atingir sua meta de déficit. Esperamos que opte pela segunda opção”, disse Daoud.
As opiniões dos analistas
“O orçamento da Arábia Saudita para 2019 traçou uma maior flexibilização fiscal, mas o governo parece estar confiando em suposições otimistas de que os preços do petróleo subirão quase US$ 80 por barril”, escreveu Jason Tuvey, economista sênior de mercados emergentes da Capital Economics em Londres, no relatório “Saudi budget: wishful thinking” (“Orçamento saudita: doce ilusão”).
“Decifrar o orçamento da Arábia Saudita nunca é uma tarefa fácil, mas, lendo nas entrelinhas, o documento parece apontar para um terceiro ano consecutivo de flexibilização fiscal”, disse ele, acrescentando que estima um déficit orçamentário próximo a 10 por cento do produto interno bruto.
“Os gastos equivalentes devem se contrair 2,2 por cento interanual em 2019. Assim, a postura fiscal é em grande parte neutra, o que, na nossa opinião, não surpreende, dada a correção acentuada nos preços do petróleo”, disse Mohamed Abu Basha, chefe de análise macroeconômica do banco de investimento EFG-Hermes, com sede no Cairo. Como o reino planeja um aumento de 20 por cento nos gastos de capital, Basha prevê “desafios” na realização de “gastos em investimento tão ambiciosos”.
“Como no ano anterior, quando o governo anunciou um plano de investimento de capital agressivo, não vemos muitas evidências no ciclo de concessão de projetos que nos garantam que esse ritmo de gastos possa ocorrer, pelo menos não até meados de 2019”, disse ele.
“Claramente, dado o cenário político, há o desejo de amortecer o impacto do ajuste fiscal”, disse Tim Ash, estrategista da BlueBay Asset Management em Londres. A “emissão da dívida dependerá de para onde os preços do petróleo irão. Preços do petróleo mais baixos acarretarão mais emissões. No entanto, a estratégia deles é emitir mais dívida localmente e cortar a emissão externa”.
A Arábia Saudita e outros quatro países do Golfo Pérsico serão elegíveis para inclusão nos índices de títulos de mercados emergentes do JPMorgan a partir do fim de janeiro, o que pode atrair bilhões de dólares em fluxos de entrada passivos.
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