Estrangeiros em Londres temem visão do governo sobre imigração

Por Alex Morales, John Ainger e Eric Pfanner.

Se a primeira-ministra Theresa May conseguir o que pretende com a imigração, Víctor Villar diz que poderá ir embora de Londres.

O consultor mexicano de análise de carteiras, de 31 anos, é um dos muitos estrangeiros no distrito financeiro da cidade que serão afetados pela proposta do governo de obrigar as empresas a revelar quantos trabalhadores imigrantes elas contrataram como uma maneira de pressioná-las a dar prioridade aos britânicos.

“Se as coisas piorarem com a aprovação de políticas contrárias à imigração no Parlamento, com certeza eu pensaria em trabalhar nos EUA ou em algum outro lugar”, disse Villar, que mora na capital há dois anos e meio, em entrevista. O plano de May é “um tiro no pé, porque muitas pessoas que vêm trabalhar aqui são qualificadas”.

A secretária do Interior, Amber Rudd, propôs nesta semana punir bancos e proprietários que não verificarem os estrangeiros com quem fazem negócios. É parte da estratégia do governo para enfrentar a preocupação pública com a imigração, exposta pela decisão do Reino Unido, em referendo, de sair da União Europeia.

Lembrança do nazismo

Uma pesquisa da YouGov com 5.875 adultos publicada na quarta-feira concluiu que 59 por cento das pessoas apoiam essas políticas, fato que mostra que Rudd e May estão em sintonia com os eleitores. Isso não serve de consolo para as multidões de habitantes de Londres nascidos no exterior, muitos dos quais se naturalizaram britânicos. Para alguns, há paralelos com a Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial.

“Estou horrorizada com isso”, disse Paula Levitan, advogada americana da Bryan Cave que mora em Londres há 16 anos e adquiriu um passaporte britânico. “Impossível não pensar na década de 1930 e no começo dos anos 1940. Vamos ter que usar um emblema no braço?”

Os paralelos com a Alemanha nazista viralizaram nas redes sociais depois que James O’Brien, locutor da rádio LBC, leu trechos da autobiografia de Adolf Hitler que se refletiam nas propostas do Ministério do Interior. O programa gerou uma forte reação, fato que destaca como os sentimentos se exaltaram.

Mensagem anti-imigração

Ficou claro que a primeira-ministra interpretou o resultado do referendo no Reino Unido, de 52 por cento a 48 por cento, como uma mensagem contrária à imigração que lhe encarrega de adotar medidas rígidas para reduzir o número de pessoas que chega ao país. Ela pretende diminuir a imigração anual líquida de mais de 300.000 pessoas atualmente para menos de 100.000.

Por seu caráter internacional, a maioria esmagadora dos eleitores de Londres optou no referendo por permanecer na UE, em conflito com o restante do país. Cerca de 37 por cento dos moradores de Londres não nasceram no Reino Unido, em comparação com 13 por cento nacionalmente. O distrito financeiro da cidade atrai profissionais de bancos do exterior, mas muitos outros estrangeiros empregados em diversos outros setores também estão chocados.

“Todos somos seres humanos e se a minha empresa fizesse isso, pareceria uma decisão racista”, disse Ziaurehman Yaqubi, entregador de comida do Afeganistão.

Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.

Agende uma demo.