Estrategista que viu crise em emergentes continua pessimista

Por Michael Patterson, com a colaboração de Ye Xie e Sangwon Yoon.

Se John-Paul Smith estiver certo, alguns dos maiores investidores do mundo vão acabar tendo uma enorme decepção.

O estrategista, que mora em Londres e foi um dos poucos a prever a queda dos mercados emergentes que começou em 2011, não vê nenhum sinal de recuperação e diz que o ambiente atual parece com o do fim da década de 1990, quando crises no Sudeste Asiático e na Rússia provocaram turbulência em todo tipo de ativos. Seu posicionamento contrasta com os comentários otimistas de gestoras de recursos como BlackRock, Franklin Templeton e Research Affiliates – assessora da Pacific Investment Management que projeta que os ativos dos países em desenvolvimento podem ser o próximo “negócio da década”.

Embora Smith não administre trilhões, como a BlackRock, nem tenha uma presença mundial, como a Franklin Templeton, o fundador da empresa de pesquisa Ecstrat tem um histórico de previsões corretas para os mercados emergentes. Sua perspectiva sempre pessimista desde o fim de 2010 profetizou perdas de mais de 30 por cento no índice MSCI Emerging Markets. Ele deu um alerta antes da quebra do mercado acionário da Rússia em 1998 como estrategista do Morgan Stanley em Moscou.

“Se há uma analogia histórica para a situação atual dos mercados emergentes, é o período de 1997-1998”, disse Smith em uma resposta enviada por e-mail a perguntas na quinta-feira.

Ele vê dois grandes motivos para o pessimismo. O primeiro é falta de progresso na redução do controle estatal nas economias dos países em desenvolvimento, um aspecto fundamental de sua tese pessimista cinco anos atrás. Smith menciona a incapacidade do Brasil de abandonar o “capitalismo de Estado”, um modelo que ajudou a afundar a economia do país em sua pior recessão em um século. Ele também se preocupa com a Rússia, a Turquia e a Polônia, onde, segundo ele, as autoridades monetárias estão avançando em uma direção mais “autoritária”.

Outra grande preocupação de Smith é a China, onde prevê que uma crise financeira será deflagrada ainda neste ano. Os empréstimos inadimplentes devem aumentar com tomadores de dívida acumulando o montante devido para pagar empréstimos preexistentes, disse ele, e as empresas enfrentando “grandes” baixas contábeis à medida em que a economia desacelera e os preços das commodities caem.

“Há uma possibilidade significativa de que a China e o Brasil, em particular, tenham que passar por algum tipo de crise econômica ou financeira”, disse ele.

Smith reconhece que os yields da dívida de mercados emergentes se tornaram mais atraentes em um mundo de taxas de juros extremamente baixas e diz que as moedas de alguns países em desenvolvimento, em particular o rand sul-africano e o peso mexicano, parecem estar subvalorizadas. Mas ele não está convencido de que os bonds do mercado emergente sejam imunes à turbulência econômica na China e no Brasil. Ele diz que os investidores deveriam se concentrar em destinar ativos a países específicos, em vez de fazer apostas generalizadas nos mercados emergentes internacionais.

‘Falso conforto’

Essa cautela contrasta com o número crescente de otimistas. A BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, disse na quinta-feira que os compradores de bonds dos países em desenvolvimento estão sendo compensados por desafios que vão da queda de preço das commodities à desaceleração econômica da China. Christopher Brightman, diretor de investimento da Research Affiliates, disse em uma publicação no site da Pimco que as ações dos mercados emergentes estão “excepcionalmente baratas”.

“O êxodo dos mercados emergentes é uma oportunidade maravilhosa – e muito possivelmente o negócio da década – para o investidor de longo prazo”, escreveu Brightman.

As ações não estão tão baratas quanto parecem, de acordo com Smith, que fundou a Ecstrat em 2014 depois de 30 anos de carreira em gestoras de recursos e corretoras de valores. O índice MSCI de países em desenvolvimento está avaliado em 1,3 vez os ativos líquidos, perto do patamar mais baixo desde a crise financeira em 2009, mas Smith diz que os balanços corporativos deverão se tornar muito menos atraentes à medida em que as empresas fizerem as baixas contábeis do valor de seus ativos informados.

“Nesse contexto, o aparente nível baixo das avaliações oferece um falso conforto”, disse ele. “Haverá baixas contábeis significativas”.

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