Por Rachel Evans.
Um perigo ronda um dos segmentos mais competitivos da indústria de gestão de recursos.
Provedores de fundos estão dando pouca bola aos riscos associados a produtos smart beta – estratégias de compra de ações com base em ‘‘fatores’’ como valor ou crescimento – e superestimando seu potencial retorno, segundo novo estudo da Research Affiliates.
Com uma onda de lançamentos, um quarto do dinheiro destinado a fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) neste ano foi para estratégias smart beta, que já representam 22 por cento do mercado de ETFs dos EUA. No entanto, muitos compradores não estão preparados para os longos períodos de baixo retorno que caracterizam o investimento em fatores e podem perder dinheiro, disse Vitali Kalesnik, diretor de pesquisas para a Europa da Research Affiliates.
“O investimento em fatores não é um almoço grátis”, afirmou Kalesnik durante entrevista sobre o estudo, que ele realizou junto com Juhani Linnainmaa, consultor na empresa de pesquisas sediada em Newport Beach, na Califórnia.
“Quando o desempenho for ruim por cinco ou 10 anos, não se preocupe, isso é de se esperar — e a pessoa se dá conta de que a compensação é para cobrir isso.”
Somente quem tem estômago para manter investimentos por esse horizonte tão longo deve considerar o investimento em fatores, recomendou Kalesnik. Investidores menos tranquilos devem continuar com fundos tradicionais que compram ações com base no valor de mercado da empresa, acrescentou.
Perdendo feio
Não é a primeira vez que a Research Affiliates destacou a importância do timing. Um estudo de 2016 realizado pelo fundador Rob Arnott — intitulado “Como ‘smart beta’ pode dar horrivelmente errado” — argumentou que muitas estratégias com base em fatores foram sobrevalorizadas e podem ruir. A firma recomenda comprar ações baratas (o chamado “investimento em valor”), embora o retorno dessa estratégia esteja em desvantagem há anos.
O estudo mais recente tenta explicar porque investidores subestimam a frequência e escala de possíveis perdas geradas por fundos de fatores, especialmente quando diversas estratégias são combinadas em uma mesma carteira.
O investimento multifatorial costuma ser promovido como meio de minimizar o impacto do mau desempenho de um só fator. No entanto, as formas comuns de analisar retorno gerado por essa abordagem não capturam a magnitude das potenciais perdas. Nos últimos 55 anos, 83 por cento das piores taxas de retorno de estratégias baseadas em fatores nos EUA foram mais severas do que os modelos convencionais sugerem, de acordo com a Research Affiliates.
“Combinações de fatores, assim como fatores individuais, também passam por demoradas e substanciais fases negativas”, escreveram Kalesnik e Linnainmaa. “Os riscos do investimento em fatores costumam ser subestimados (talvez severamente) e os benefícios da diversificação tendem a ser exagerados.”
Ainda assim, os autores escreveram que o investimento em fatores pode ser útil “contanto que as expectativas sejam adequadamente ajustadas e se usado por investidores preparados para suportar potenciais períodos de desempenho significativamente inferior”.
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