EUA: Segundo uma bizarra teoria, alta dos juros elevará inflação

Por Alexandra Scaggs.

Muitos economistas estão tão perplexos com a falta de inflação nos EUA após anos de estímulos monetários sem precedentes, que uma bizarra e secular teoria repentinamente ganha força: talvez as taxas de juros mais elevadas sejam o que faltava para empurrar os preços ao consumidor para cima.

A ideia é contrária, é claro, a praticamente tudo o que é ensinado nas aulas de Introdução à Economia (as taxas mais elevadas, nos dizem, desencorajam os gastos, em vez de incentivá-los, e, portanto, contêm a inflação). Mas os custos dos empréstimos perto de zero ajudaram tão pouco a inflação que vários economistas destacados, como John Cochrane, pesquisador sênior da Hoover Institution, da Universidade de Stanford, desenterraram a teoria e estão tentando aplicá-la à lenta expansão atual. A chave para o argumento é a ideia de que as taxas mais elevadas farão as pessoas pensarem que a economia está melhor e, como resultado, elas começarão a gastar mais. Em outras palavras, projete força e a força (e um pouco de inflação) virá.

“Quando há um debate, as pessoas dizem que estamos loucos”, disse Cochrane. Mas depois que o Fed reduziu as taxas de juros para perto de zero, “não houve uma espiral de deflação. Não houve hiperinflação. Isso é notável”.

A teoria será colocada à prova em breve. É ampla a expectativa de que os estrategistas do Federal Reserve começarão a elevar a taxa de juros de referência nesta quarta-feira. A inflação atualmente é quase inexistente, com um ritmo anual de apenas 0,2 por cento. Quem anseia por ver uma inflação mais elevada — como o próprio Fed — argumenta que o aumento dos preços ajudaria a promover uma expansão mais robusta sete anos depois de o crescimento ter sido estrangulado pela crise financeira.

Neofisheriano

O economista Irving Fisher foi o primeiro a propor, no final do século 19, a ideia de que o aumento dos juros poderia levar a uma inflação maior. Seu grupo de seguidores, cada vez maior, ganhou o rótulo de “neofisheriano”.

Além de Cochrane, de Stanford, Stephen Williamson, economista do Federal Reserve de St. Louis, tem defendido o conceito, e os economistas Stephanie Schmitt-Grohe e Martin Uribe, da Universidade de Columbia, apresentaram um modelo segundo o qual o aumento dos juros pode ampliar as expectativas inflacionárias e o emprego. Até o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, flertou com a ideia. Ele disse, em discursos proferidos em agosto e em novembro, que é possível que a economia dos EUA atinja um estado de inflação baixa e estável pelo fato de o Fed ter mantido as taxas de juros próximas de zero.

Efeito oposto

Os juros e a inflação mais elevados seriam positivos para aqueles que já tomaram a maior parte dos empréstimos, porque nesse cenário as dívidas dessas pessoas valem menos. Por outro lado, elevam-se os custos dos empréstimos para praticamente todos os demais.

Essa situação também poderia tornar os empréstimos mais rentáveis para os bancos, o que poderia levá-los a ampliar os empréstimos a consumidores e empresas, segundo Brian Jacobsen, estrategista-chefe de portfólio da Wells Fargo Advantage Funds, que gerencia US$ 242 bilhões em Menomonee Falls, Wisconsin. O pior cenário, provavelmente, seria uma bolha de ativos, disse ele.

Se a teoria neofisheriana for correta e a inflação realmente começar a subir depois que os juros forem elevados, os estrategistas do banco central endossariam o resultado. Normalmente, eles buscam exatamente o oposto quando elevam as taxas. Mas as circunstâncias atuais nos EUA e no Japão estão levando alguns intelectuais a repensarem o dogma econômico mais consolidado.

“Há muita incerteza a respeito de como as coisas funcionarão”, disse Cochrane. “Isso certamente exige cautela. As coisas poderiam acabar sendo diferentes do que se pensa”.

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