Por I. Almeida e Megan Durisin.
Os EUA e a Rússia estão novamente envolvidos em uma disputa por supremacia, desta vez no mercado de trigo. Depois que a Rússia passou à frente recentemente, os EUA contra-atacaram com a ajuda do dólar mais fraco.
Uma ironia da situação é que os EUA estão ganhando participação de mercado, em parte, em meio à investigação do FBI às conexões entre os assessores do presidente dos EUA, Donald Trump, e a Rússia. A investigação enfraqueceu o dólar e deixou o grão americano mais barato para os compradores do exterior. O cenário está ajudando os EUA a retomarem a posição de maiores exportadores de trigo do mundo pela primeira vez em três anos, roubando de volta o título da Rússia.
A luta pela liderança nas exportações mundiais de trigo é sempre acirrada e fornecedores como EUA, Rússia e Canadá costumam brigar pela posição. Os exportadores americanos estavam em desvantagem após vários anos de dólar mais forte. Agora, com o dólar em queda, a oferta dos EUA está tão barata que o Egito, o maior importador mundial, comprou dois carregamentos em leilão na semana passada. Essa é a primeira compra do tipo em dois anos e mostra que o grão dos EUA se tornou mais competitivo, mesmo tendo custos de frete mais elevados.
“O leilão da semana passada foi uma espécie de divisor de águas”, disse Matt Connelly, analista de grãos da The Hightower Report em Chicago, por telefone. “Não sei se o Egito voltará de forma consistente, mas se o fizer e se os EUA estiverem incluídos no próximo leilão, isso mostrará ao mercado que estamos aqui para ficar.”
Os EUA exportarão 28,2 milhões de toneladas de trigo na temporada que está prestes a terminar, 34 por cento a mais do que um ano antes, estima o Departamento de Agricultura dos EUA. Com o resultado, as vendas do país ao exterior superarão as da Rússia, projetadas em 28 milhões de toneladas. O euro mais forte e as safras ruins também estão tornando a oferta da União Europeia menos competitiva.
Vitória no Egito
Os EUA venderam 115.000 toneladas ao governo egípcio na semana passada e também embarcaram cerca de 612.000 toneladas à Argélia nesta temporada, mercados muitas vezes dominados pela Europa e pelo Mar Negro. A demanda também foi impulsionada pela China. Os principais mercados dos EUA são o México e o Japão.
Os exportadores americanos podem não desfrutar dos benefícios por muito tempo. Os países da região do Mar Negro provavelmente terão boas colheitas na safra local, que começa em julho, enquanto os EUA plantaram a menor área de trigo de inverno em mais de um século. O clima frio e úmido também está gerando preocupações sobre a qualidade da safra de inverno dos EUA, que está apenas começando a ser colhida, segundo o Rabobank International.
Os EUA ainda poderão manter uma vantagem sobre o trigo europeu porque a valorização do euro e o clima seco prejudicarão a colheita da próxima safra na Espanha e na França. O trigo de Paris para entrega em dezembro estava US$ 21,50 mais caro por tonelada do que o grão negociado em Chicago, um recorde para esse contrato.
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