Excesso de oferta deve prorrogar o tédio nos mercados agrícolas

Por Millie Munshi.

Os mercados agrícolas foram fracos em 2017 e parece que 2018 não será tão diferente.

Com excesso de oferta, as commodities agrícolas registram queda de preços há anos — o que reduz a renda dos produtores e mantém a inflação global de alimentos bem comportada. A oferta é tão grande que os superlativos não bastam: estoques mundiais próximos aos recordes para milho, soja e trigo; a produção de carne nos EUA no maior patamar até hoje; a maior colheita em registro no mercado de açúcar.

E a volatilidade praticamente sumiu. Uma medida de oscilação do Bloomberg Agriculture Subindex deve terminar 2017 perto da mínima em 22 anos que foi atingida em abril.

Alguma oscilação

Milho e soja variaram pouco, mas mercados de nicho proporcionaram a especuladores rompantes de volatilidade que ajudaram a quebrar a monotonia.

O preço do açúcar sofreu colapso súbito no primeiro semestre e se recuperou consistentemente nos últimos meses. Como a perspectiva para o produto é vinculada à do etanol no Brasil, as oscilações se intensificaram e fizeram do açúcar a commodity agrícola mais volátil do ano.

Perspectiva

Muitos analistas esperam que os preços se mantenham deprimidos em 2018. O Goldman Sachs Group tem recomendação de alocação acima do peso estratégico em commodities em geral, mas o otimismo não se estende aos produtos agrícolas. A estimativa é de queda de 0,9 por cento nos próximos 12 meses, enquanto o setor como um todo deve gerar retorno de 7,5 por cento, de acordo com relatório divulgado pelo banco em 19 de dezembro.

O Société Générale tem visão parecida. Em relatório publicado no final de novembro, o banco usou expressões como “preso a um intervalo” e “decididamente pessimista” para caracterizar a perspectiva para os mercados de grãos, oleaginosas, algodão e café. Analistas do Citigroup classificaram a recente tendência de recuo dos preços dos grãos como “sem precedentes, pelo menos até 1970, tanto em escala quanto em consistência”.

Os analistas não esperam uma virada tão cedo, “na ausência de um grande choque climático”.

Mas prever o futuro nunca foi fácil. Surpresas podem vir dos seguintes fatores:

* La Niña: O fenômeno climático com potencial para abalar o mercado vai durar até fevereiro, de acordo com o Centro de Projeção do Clima dos EUA. O fenômeno é caracterizado por temperaturas atipicamente frias no Oceano Pacífico e ameaça causar seca na América do Sul. O risco maior é para a safra de soja da Argentina, maior exportadora mundial de ração animal à base de soja.

* Volatilidade cambial no Brasil: A taxa de câmbio pode flutuar bastante antes da eleição presidencial em outubro. Essa volatilidade pode atingir os mercados de commodities, uma vez que os agricultores brasileiros podem aproveitar uma depreciação do real para vender mais soja, milho, açúcar e café.

* Imprevisibilidade climática: A mudança climática dificulta previsões e os mercados de commodities estão vulneráveis a grandes viradas de tempo. Secas, inundações e furacões podem quebrar safras e causar a disparada dos contratos futuros.

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