Por Ian Wishart.
As intenções da primeira-ministra britânica para a saída do Reino Unido da União Europeia estão antagonizando governos do bloco, aumentando o risco de as negociações descambarem para uma briga até pior do que se esperava.
As exigências iniciais de Theresa May –- e os avisos dela sobre o que fará com impostos ou segurança se não conseguir o que quer – elevam a probabilidade de o Reino Unido deixar o bloco em 2019 sem um acordo de saída e sem o amplo pacto comercial que deseja, segundo cinco diplomatas baseados em Bruxelas que pediram anonimato para falar com a reportagem.
O clima piorou a menos de dois meses do início planejado das discussões, a partir da invocação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa. É provável que ela precise modificar sua abordagem para garantir que a separação não prejudique as economias de ambos os lados.
“Vai ser muito complicado, muito bagunçado”, disse o ex-primeiro-ministro da Finlândia Alexander Stubb em entrevista à Bloomberg Television nesta semana. “Quando se negocia o Artigo 50, são aproximadamente 200.000 páginas de legislação secundária – não será fácil simplesmente sair.”
Os diplomatas indicaram que os governos da UE estão se preparando para fincar o pé na posição de que o Reino Unido não estará melhor fora do bloco do que dentro e que seus próprios interesses e a estabilidade regional são mais importantes do que a necessidade de manter boas relações com o Reino Unido.
Os diplomatas reconheceram que o processo será longo e cheio de reviravoltas e que May simplesmente deu uma cartada inicial. Porém, eles se disseram surpresos com o tom combativo do governo britânico até agora.
“A UE enfrenta uma crise existencial”, disse Malcolm Barr, economista do JPMorgan Chase. O bloco “vai priorizar um acordo que estimule a coerência entre os 27 e que demonstre todas as desvantagens de uma saída, mesmo se isso causar custo econômico de curto prazo para si”.
Valores substanciais
May delineou sua estratégia durante um discurso em janeiro e publicou formalmente o plano na semana passada. Ela pretende sair do mercado comum de bens e serviços, parar de enviar valores substanciais a Bruxelas, reprimir a imigração e retomar o poder de elaborar leis. Quanto ao comércio, ela quer um relacionamento comercial “audacioso e ambicioso’’ com a UE, mas também quer liberdade para negociar acordos com outros países.
Segundo ela, esse relacionamento beneficiaria a UE ao garantir que os fluxos comerciais cruzem facilmente o Canal da Mancha. A primeira-ministra alertou que ambas as partes podem se machucar se não chegarem a um pacto. “É do interesse de todos chegar a um arranjo, chegar a uma parceria entre nós que de fato atenda às necessidades de ambos os lados’’, declarou May à revista New Statesman nesta semana. “Não acho que estou em desvantagem.’’
Contudo, os governos da UE perceberam um tom ameaçador da parte de May, segundo os diplomatas. Ela sugeriu que, se não houver acordo, o Reino Unido pode baixar impostos para manter a competitividade e deixar de cooperar com vizinhos em questões de segurança. A abertura que ela demonstrou com o presidente americano Donald Trump também atraiu críticas.
Os esforços britânicos para encontrar aliados entre os outros 27 integrantes da UE e enfraquecer a Comissão Europeia em Bruxelas também podem aumentar a rigidez de suas contrapartes, segundo os diplomatas.
O Reino Unido já começou a fortalecer embaixadas na Europa Central e no Leste Europeu. O governo britânico ainda não garantiu os direitos de cidadãos da UE que vivem no Reino Unido, que estão em maior número do que os cidadãos britânicos que vivem no continente.
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