Falta de crescimento econômico na zona do euro faz com que yields negativos sejam normais

Por Lukanyo Mnyanda e David Goodman.

Os yields negativos de bonds, impensáveis antes da crise da dívida da Europa, se tornaram irremediáveis porque a zona do euro está mostrando poucos sinais de crescimento.

Mais de quatro meses depois de o Banco Central Europeu ter começado seu programa de aquisição de bonds para injetar dinheiro na economia, US$ 1,4 trilhão em títulos emitidos por governos da região pagam menos do que zero, segundo dados compilados pela Bloomberg. Isso equivale a 23 por cento do mercado.

“Os investidores não têm outra opção além de se acostumar com os yields negativos”, disse Ciaran O’Hagan, diretor de estratégia de taxas do Société Générale SA para a Europa em Paris. “Deixou de ser uma anomalia. Desta vez, acho que eles vão ficar mais tempo baixos”.

Os yields nos títulos da França com vencimento em dois anos recuaram no dia 6 de agosto para abaixo do valor de -0,2 por cento que o BCE cobra aos credores por depositarem seu dinheiro excedente na instituição da noite para o dia. Os yields alemães são inferiores a zero nas notas com vencimentos em até quatro anos.

Os yields negativos implicam que, na prática, os investidores que preservarem os títulos até o vencimento estão abrindo mão de parte do dinheiro para protegê-lo em relação aos ativos mais arriscados, que são mais orientados pela prosperidade de empresas e países.

Preocupações

O FMI disse em um relatório de 27 de julho que havia uma perspectiva reprimida para a zona do euro por causa da falta “crônica” de demanda e da produtividade fraca. O potencial de crescimento tinha caído para cerca de 1 por cento ao ano.

“Talvez o mercado não esteja convencido da recuperação e do retorno da inflação”, disse Elwin de Groot, economista sênior de mercados do Rabobank International em Utrecht, Holanda. “Esses yields negativos para uma parte considerável da curva é um reflexo dessa incerteza”.

A tendência nos yields dos bonds alemães contrasta com o ocorrido nos EUA, onde os yields para os bonds com vencimento em dois anos se mantiveram positivos apesar das várias medidas tomadas pelo Federal Reserve (Fed), entre elas a compra de bonds através da flexibilização quantitativa.

Os yields para os bonds da Alemanha com vencimento em dois anos chegaram a -0,29 por cento em abril, ao passo que o valor mínimo nas notas do Tesouro dos EUA com uma data de vencimento similar foi de 0,14 por cento em setembro de 2011, depois do final do segundo período de flexibilização quantitativa empreendido pelo Fed.

Apetite

O Bloomberg Eurozone Sovereign Bond Index deu um salto de 2,4 por cento no mês passado, o maior ganho desde abril de 2013, e os primeiros retornos positivos desde março deste ano, quando o BCE iniciou seu programa de flexibilização quantitativa de 60 bilhões de euros (US$ 65 bilhões) por mês.

O apetite renovado pela posse de bonds da zona do euro, inclusive daqueles sem yield, foi apoiado por outros indicadores que mostraram uma queda nas expectativas de inflação e a piora da perspectiva de crescimento. As vendas varejistas de junho na região sofreram a maior queda em nove meses, mostrou um relatório na semana passada.

Uma métrica do mercado identificada pelo presidente do BCE Mario Draghi como referência para a perspectiva de inflação da zona do euro caiu nesta semana para o patamar mais baixo desde maio. Com 1,74 por cento, a chamada taxa de swap a cinco anos projetada para daqui a cinco anos não mostrou nenhuma perspectiva de inflação que chegasse à meta de 2 por cento do BCE.

“Agora percebe-se com conforto que o BCE continuará o programa no mínimo até setembro do ano que vem”, disse Mike Amey, gerente de fundos da Pacific Investment Management Co. em Londres, em entrevista no programa “The Pulse”, com Francine Lacqua, da Bloomberg Television.

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