Por Cristiane Lucchesi e Felipe Marques.
A família Trajano fez uma fortuna com o varejo, adaptando seu negócio de 60 anos, o Magazine Luiza, à era da Internet.
Sua mais nova aposta é em uma empresa que está tornando a agricultura mais eficiente por meio da tecnologia. O clã brasileiro está liderando um investimento de US$ 40 milhões em uma fatia minoritária na Solinftec, que usa software e hardware para aumentar a produtividade agrícola.
A injeção de capital ajudará a Solinftec a se expandir para novas culturas e regiões, de acordo com Patricia Moraes, sócia gestora da Unbox Capital, empresa de private equity que administra cerca de US$ 100 milhões para a família Trajano. O TPG Art do TPG Group Plc, que comprou fatia na Solinftec em 2017, também fez um novo investimento agora, separadamente, de valor não revelado, para evitar diluição.
Como maior exportador mundial de soja, açúcar, café e carne, o Brasil é um incubador natural de startups de tecnologia para agricultura, conhecidas como AgTechs, com mais de 300 dessas empresas, de acordo com estimativas da escola de agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e do AgTech Garage, um centro de inovação que fomenta novos negócios.
O software e o hardware da Solinftec conectam em tempo real as máquinas utilizadas nas lavouras a uma plataforma de inteligência artificial chamada “Alice”, que se comunica com os clientes para coordenar melhor a produção e reduzir o uso de combustível, fertilizantes e sementes, de acordo com a empresa.
A Solinftec foi criada em 2007 por sete cubanos, incluindo o diretor de tecnologia Britaldo Hernandez, e passou a oferecer a outros clientes os mesmos serviços que inicialmente oferecia para a maior produtora brasileira de cana-de-açúcar, a Cosan. A Solinftec hoje monitora cerca de 72% da safra de cana-de-açúcar do Brasil, de acordo com o presidente Rodrigo Iafelice dos Santos. Em todo o mundo, monitora 18 milhões de acres, incluindo milho, algodão, café e laranja, e agora está crescendo no mercado de soja.
Em junho passado, a empresa, com sede em Araçatuba, São Paulo, abriu filial nos EUA, no Purdue Research Park, em West Lafayette, Indiana. A empresa possui cerca de 500 funcionários e atende clientes em 11 países.
“Queremos ajudar a Solinftec a se expandir, mostrando sua tecnologia inovadora para o mundo inteiro”, disse Patricia, em entrevista. Ela disse que a Solinftec nunca perdeu um cliente e tem uma forte receita recorrente.
Estações meteorológicas locais e previsões ajudam a empresa a aconselhar os clientes sobre a pulverização de pesticidas, por exemplo, evitando desperdícios durante ventos fortes ou chuva e impedindo que os produtos se espalhem para as fazendas vizinhas. Depois de usar a tecnologia da Solinftec, a Cosan conseguiu reduzir o número de máquinas de colheita de 250 para 220, disse Santos.
Valores, Tecnologia
“Como sempre acontece com os investimentos da Unbox, a decisão final ocorre quando a família Trajano simpatiza com os empreendedores que fundaram a empresa e aprova seus valores e tecnologia”, disse Patricia. A química de Hernandez com a presidente do conselho do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, foi instantânea, segundo Patricia.
A Solinftec já recebeu investimentos da empresa de private equity TPG Group, por meio de sua plataforma para estimular o crescimento de tecnologias renováveis e alternativas, TPG ART, e do AgFunder Inc.
A Solinftec é o quinto investimento que a Unbox realiza no Brasil desde sua criação em novembro de 2018. Anteriormente, comprou fatia na empresa de telecomunicações Sumicity e na In Loco, que fornece dados com base em serviços de localização. Outros investimentos incluem a fabricante de alimentos saudáveis Flormel Indústria de Alimentos e a empresa de marketing de conteúdo Rock Content.
“Nós já estamos procurando fazer outras aquisições, incluindo uma fintech”, disse Patricia.
A Unbox faz investimentos minoritários em empresas com receita superior a R$ 50 milhões e já investiu cerca de R$ 200 milhões, disse ela. Possui três executivos de investimentos: Felipe Freitas, Bruno Foresti e Laís Braido.
“Eu queria ter uma mulher trabalhando para mim, e é difícil em private equity encontrar uma mulher”, disse Patricia.
Direitos da Mulher
Patricia, ex-banqueira de investimentos do JPMorgan Chase & Co., conheceu Luiza Helena Trajano em 2009, quando o banco era assessor financeiro do Magazine Luiza em uma aquisição.
As duas se tornaram amigas íntimas na batalha para promover os direitos das mulheres. Patricia participou do primeiro encontro da organização conhecida como Mulheres do Brasil. Criado em 2013 por Luiza Helena, com 40 mulheres, o grupo hoje tem mais de 37.000 membros e apoia a igualdade de renda e gênero, além de cotas para incentivar avanços para as mulheres no local de trabalho.
Patricia agora está tentando incentivar a participação de mulheres em empresas de private equity e venture capital. Ela começou com um jantar em sua casa no final do ano passado, com 40 agentes de investimento, depois de procurar fundos pessoalmente para encontrar mulheres.
“Estou tentando criar uma comunidade e conectar empresas a mulheres de firmas de private equity e venture capital para estimular sua participação nos conselhos”, disse Patricia.