Farmacêuticas defendem antibióticos apesar das superbactérias

Por Jared S. Hopkins.

Os EUA querem combater as superbactérias atacando um dos maiores mercados do mundo para os antibióticos: as fazendas.

As grandes farmacêuticas têm outro plano.

Embora esteja se preparando para cumprir novas iniciativas da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) que limitam o uso de antibióticos no gado do país, o setor comercializa medicamentos a veterinários americanos e continua expandindo as vendas no restante do mundo. Bactérias resistentes a antibióticos, as chamadas superbactérias, são um problema cada vez maior, particularmente em hospitais. Segundo estimativas, elas causam 700.000 mortes por ano. Cientistas afirmam que há um vínculo estreito entre a saúde do gado do planeta e a saúde da população humana.

“Se alguns dos maiores responsáveis — isto é, as empresas que fabricam esses produtos — continuam vendendo os antibióticos em outros países, isso salienta que essa mudança tem que acontecer no mundo inteiro”, disse David Wallinga, funcionário sênior de saúde e médico do National Resources Defense Council. “E as empresas têm uma grande responsabilidade nessa abordagem.”

Empresas, agricultores e processadoras de alimentos afirmam que os antibióticos ainda são uma ferramenta essencial para fornecer carne e aves saudáveis e em abundância a preços acessíveis aos consumidores. Mesmo assim, apoiam a utilização de alternativas aos antibióticos que contribuem para superbactérias e alguns estão trabalhando em vacinas para fazer o que os antibióticos fazem hoje.

Seminários educativos

Conforme as novas normas da FDA, que entram em vigor em janeiro, a maioria dos antibióticos de importância médica– aqueles que também são usados em seres humanos — será vendida com receita ou aprovação veterinária. Atualmente, a maioria é de venda livre. A FDA apresentará novos rótulos de embalagens para centenas de remédios afetados pelas normas da agência.

A fim de garantir que agricultores e criadores de gado dos EUA continuem recebendo um fluxo de antibióticos, as empresas farmacêuticas estão lançando seminários educativos na internet com dicas sobre como usar antibióticos sem violar as novas regulamentações. Críticos afirmam que esse esforço equivale a comercialização para clientes predispostos: a renda de muitos veterinários já depende da venda de medicamentos e agora eles terão mais remédios para vender.

As companhias farmacêuticas também pretendem compensar qualquer queda nas vendas de antibióticos nos EUA exportando para lugares como a Ásia e a América do Sul, onde a demanda pelo maior consumo de carne e aves tem mais peso que as preocupações com a resistência aos antibióticos. Elas afirmam que o grau de responsabilidade do gado pela resistência em seres humanos não está claro e apontam que somente duas de 18 ameaças antibióticas monitoradas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, a campylobacter e a salmonella não tifoide, estão associadas com o uso em animais.

Poucos países além dos EUA têm planos abrangentes para combater a resistência, o monitoramento é pouco frequente e a venda de medicamentos sem receita é crescente, segundo uma pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde em 2015. Por isso, embora reguladores e consumidores pretendam reduzir a utilização nos EUA, os países não desenvolvidos funcionam como um mercado disposto.

“O mais provável é que a grande maioria dos usos são justificados e deve continuar”, disse Gatz Riddell, presidente da American Association of Bovine Practitioners.

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