Farmacêuticas são obstáculo a novo contraceptivo masculino

Por Ari Altstedter.

Médicos estão prestes a lançar o primeiro contraceptivo masculino novo em mais de um século. Mas este avanço não sairá do laboratório de uma grande empresa farmacêutica, e sim de uma startup universitária no coração da zona rural da Índia.

Anos de testes em seres humanos do produto injetável que oblitera o esperma estão chegando ao fim, e os pesquisadores estão se preparando para submetê-lo à aprovação regulatória. Até o momento, os resultados mostram que esse produto é seguro, efetivo e fácil de usar — mas está conquistando poucos adeptos entre as companhias farmacêuticas. Isso é frustrante para seu inventor, que afirma que sua técnica poderia desempenhar um papel crucial em populações avessas às camisinhas.

Um novo método contraceptivo para homens poderia chegar a conquistar metade do mercado mundial de anticoncepcionais femininos, de US$ 10 bilhões, e ficar com uma parte dos US$ 3,2 bilhões em vendas anuais de camisinhas, negócios dominados pelas gigantes do setor farmacêutico Bayer, Pfizer e Merck & Co., de acordo com estimativas da última grande empresa do setor a explorar essa área. O procedimento reversível da Índia poderia custar apenas US$ 10 em países pobres e garantir o controle da fertilidade aos homens por anos, superando os problemas de compliance e evitando os custos contínuos associados às camisinhas e às pílulas anticoncepcionais femininas, que costumam ser tomadas diariamente.

Esse método também poderia ser um alívio para 225 milhões de mulheres de países em desenvolvimento que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, têm uma necessidade não atendida de contraceptivos. No entanto, até o momento apenas uma organização sem fins lucrativos dos EUA começou a desenvolver essa tecnologia no exterior.

Para Sujoy Guha, o engenheiro biomédico de 76 anos que inventou o produto, o desafio agora é encontrar uma empresa que queira vendê-lo — embora a contracepção masculina seja uma área em que as grandes companhias farmacêuticas demonstraram pouco interesse.

“O fato de que as grandes empresas sejam dirigidas por homens brancos de meia-idade que têm a mesma concepção — de que eles nunca fariam isso — desempenha um papel enorme”, disse Herjan Coelingh Bennink, professor de ginecologia que desenvolveu os anticoncepcionais Implanon e Cerazette como diretor de pesquisa e desenvolvimento sobre saúde da mulher da Organon International de 1987 a 2000. “Se essas empresas fossem dirigidas por mulheres, seria completamente diferente.”

A técnica de Guha para impedir a fertilidade masculina se baseia em um gel de polímero injetado nos vasos que transportam o esperma no escroto. O gel, que tem a consistência de chocolate derretido, possui uma carga positiva que funciona como uma barreira para o esperma, que tem carga negativa, afetando a cabeça e a cauda dos espermatozoides e deixando-os inférteis.

O tratamento, conhecido como inibição reversível de esperma sob orientação (RISUG, na sigla em inglês), é revertido com uma segunda injeção que rompe o gel, permitindo que o esperma chegue ao pênis normalmente. O procedimento tem 98 por cento de eficiência na prevenção da gravidez — aproximadamente o mesmo que as camisinhas se usadas sempre — e não tem grandes efeitos colaterais, de acordo com R. S. Sharma, chefe de biologia reprodutiva e saúde materna do Conselho Indiano de Pesquisa Médica. Cerca de 540 homens utilizaram o método na Índia, onde ele continua evitando a gravidez de parceiras após 13 anos de tratamento, disse ele.

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