Fed precisa de político astuto no comando

Por Tyler Cowen para a Bloomberg View.

Parece que o presidente americano, Donald Trump, escolherá o próximo comandante do banco central a partir de uma pequena lista de finalistas já fechada. Como ele deveria tomar esta decisão? Eu recomendo que ele nomeie alguém capaz de liderar o Federal Reserve em uma época política provavelmente turbulenta.

O momento atual não é de normalidade política, portanto os padrões tradicionais não bastam para a escolha. Em tempos de consenso, seria sábio nomear o candidato com maior conhecimento sobre política monetária ou o mais respeitado por Wall Street. Estes critérios ainda são significativos, mas a tarefa mais importante será impedir a polarização de opiniões dentro do próprio Fed.

O pano de fundo é o quadro político nos EUA. O Partido Republicano que a população americana conhecia parece estar em colapso, incapaz de aprovar leis embora controle os três poderes. É praticamente uma guerra civil que está sendo travada entre republicanos. As fissuras do Partido Democrata são menos evidentes, porém não menos preocupantes. Os dois partidos deixaram de atuar como veículos coerentes de mudança social.

A falta de consenso político está presente em diversos países ocidentais. Basta lembrar os debates em torno do Brexit no Reino Unido e o mau desempenho dos dois principais partidos nas últimas eleições na Alemanha, apesar da expansão da economia.

O Fed funcionou como tecnocracia por muito tempo, mas será que o futuro pode dividi-lo em facções que disputam poder entre si? Eu não me refiro necessariamente a uma divisão entre republicanos e democratas nem mesmo a posições distintas sobre a política monetária.

Em vez disso, o futuro pode deixar o Fed dividido sobre sua independência política, sua responsabilidade por possíveis bolhas nos preços dos ativos, suas reações a uma crise financeira internacional e seu alinhamento à mentalidade de colocar a “América em primeiro lugar”. O trabalho da instituição ficou muito mais complicado e multifacetado do que antigamente. E o novo quadro requer um candidato mais versátil e disposto a confiar ainda mais nos funcionários quando se trata de aspectos técnicos.

O contexto é que, sob o comando de Ben Bernanke e os pacotes de resgate que ele concedeu durante a crise financeira, o Fed gastou boa parte de seu capital político — embora tenha salvado o sistema financeiro. A instituição não tem mais a credibilidade que tinha antes da crise. Enquanto a economia americana tiver uma recuperação lenta e consistente, com preços dos ativos relativamente elevados, isso será suportável.

Mas da próxima vez que a economia ficar muito volátil, as decisões do Fed serão dissecadas e politizadas como nunca. Isso acontecerá na mídia tradicional, nas redes sociais e talvez nas postagens no Twitter e comentários inusitados do ocupante da Casa Branca. O principal fator para quem quer que seja o presidente do Fed será a capacidade de manter e projetar uma voz coerente e unificada, de modo que a instituição seja uma ilha de relativa sanidade em uma nação polarizada. Será um problema de gestão de crise que, diferentemente da gestão de crise conduzida por Bernanke, evoluirá nas trincheiras da opinião pública.

O que isso significa para os candidatos finalistas? Em sua coluna na Bloomberg View, Narayana Kocherlakota, que já foi responsável pelo escritório do Fed em Minneapolis, defendeu a permanência de Janet Yellen. Eu concordo que ela fez um bom trabalho até agora. Mas não sei se ela conseguirá formar consenso em 2019, quando todos os nomeados ao comitê de política monetária serão alinhados ao Partido Republicano e quando, talvez, a fase áurea da recuperação econômica tenha ficado para trás. Ela ainda merece ser seriamente considerada, mas eu daria menos peso às decisões dela em política monetária do que à postura dela no relacionamento com colegas de comitê, com o presidente e com o público em meio a uma crise. Um dos principais argumentos a favor dela é que Trump costuma ser mais contundente e errático quando nomeia alguém novo do que quando mantém gente da época de seu antecessor Barack Obama.

O diretor do Conselho Econômico Nacional, Gary Cohn, já foi considerado favorito e talvez ainda esteja no páreo, mas as brigas públicas que ele travou com Trump o desqualificam segundo os critérios acima.

Outros candidatos, de ideologia republicana, são Kevin Warsh (que já atuou no Fed), Jay Powell (atual integrante do comitê), John Taylor (economista da Universidade de Stanford) e Neel Kashkari (atual responsável pelo escritório de Minneapolis). Todos têm talentos notáveis. Eu daria preferência a quem, durante o processo de entrevista, parecesse o mais discreto, mais capaz de formar consenso, mais hábil com a mídia e talvez o que menos se esforçou publicamente para obter o cargo.

Em seguida é preciso comparar as virtudes de liderança dessa pessoa às de Yellen.
Desta vez, a escolha é totalmente política.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial, da Bloomberg LP ou de seus proprietários.

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