Por Chris Hughes.
O possível impacto financeiro da briga da Fiat Chrysler Automobiles com o órgão regulador das emissões veiculares nos EUA é surpreendentemente amplo. Analistas da Exane calculam que seja de apenas US$ 250 milhões, mas alertam que o número poderia chegar a US$ 4 bilhões em um cenário semelhante ao da Volkswagen. A cifra mais alta representa um quarto do valor de mercado da fabricante de veículos antes da acusação da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) de que a Fiat violou suas regras sobre limpeza do ar na quinta-feira.
Mesmo que não esteja cometendo uma fraude com sua tecnologia para as emissões, a Fiat vai precisar explicar a situação ao órgão regulador, aos clientes e aos investidores — e de uma forma que todos entendam.
A EPA afirma que a Fiat não revelou qual é o software do motor que levou a emissões maiores de óxido de nitrogênio em 104.000 veículos Jeep e Dodge com determinados motores vendidos nos EUA desde 2014. Não revelar um software que “afeta as emissões” é uma séria violação da lei, afirma o órgão regulador.
A Fiat diz acreditar que seus sistemas de controle de emissões atendem os “requisitos aplicáveis”. A afirmação pode ser entendida como uma negação de qualquer sugestão de que o software tenha provocado o excesso de emissões, mas na verdade não soluciona a queixa da EPA a respeito da divulgação inadequada. O número de casos-base da Exane se baseia em penalidades geradas apenas por violações relacionadas às divulgações.
Mesmo que o problema se resuma à qualidade do engajamento regulatório da Fiat, ainda assim é uma questão importante, capaz de arranhar a reputação da empresa.
Duas coisas estão claras no estágio atual. A primeira é que o funcionamento e a finalidade do software não são de fácil compreensão para quem não é do setor. A Fiat afirma que passou meses oferecendo “um grande volume de informações” à EPA e às autoridades governamentais dos EUA para tentar explicar sua tecnologia de controle de emissões. Se as autoridades não estão satisfeitas, o problema está na comunicação da Fiat ou no fato de o sistema de software ser tão complicado que é difícil provar que ele cumpre as regras.
O segundo fator é que o software não é tão bom quanto poderia ser pelos padrões atuais. Afinal, a Fiat propôs o que chama de mudanças de software extensivas, que poderiam ser implementadas imediatamente para melhorar o desempenho das emissões. É verdade, a tecnologia pode ter avançado desde que esses modelos foram lançados. Mesmo assim, as modificações fáceis mostram que as coisas poderiam ser melhores.
Isso é importante porque é difícil ver por que os carros precisam ser tão desproporcionais e poluir tanto quanto os SUVs. Além do impacto ambiental, existe também a preocupação de que o fato de se sentirem seguros nesses carros deixa os motoristas dos SUVs menos atentos. Se os SUVs não existissem, perderíamos tanto assim, mesmo que a própria Fiat perdesse todas as vendas de grandes veículos beberrões para americanos?
Pode ser injusto apontar o dedo para a Fiat e ignorar outras empresas que fabricam produtos de utilidade social limitada. O setor de serviços financeiros raramente é apontado como culpado por seus produtos difíceis de explicar e de valor social questionável. Mas se vai trazer esses veículos para o mundo, a Fiat deve pelo menos conseguir mostrar que está acima de qualquer suspeita em relação à forma de fabricação. A lição para as outras empresas pode ser a seguinte: se você não consegue explicar seu método de forma convincente, não o faça.
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