Por Julia Leite e Sebastian Boyd.
Luiz Fernando Figueiredo sabe bem o que é uma crise brasileira. Em 2002, quando o pânico financeiro varreu o país e empurrou o governo para a beira do calote, Figueiredo viu de perto o caos como diretor do Banco Central.
Os problemas econômicos e fiscais da atualidade, segundo ele, não se parecem em nada com aquela crise. Diferentemente de 2002, o governo tem bastante dinheiro agora — em termos de reservas em moeda estrangeira e de dinheiro no caixa do Tesouro — para continuar honrando confortavelmente suas dívidas, disse Figueiredo, que fundou a empresa Mauá Sekular Investimentos após deixar o BC. Os ativos brasileiros, incluindo a moeda e bonds indexados à inflação, estão baratos pelos preços de hoje, disse ele.
O ano de 2002 “foi um momento de estresse”, disse Figueiredo, que tem pouco menos de R$ 2 bilhões sob gestão na Mauá, em entrevista na semana passada. “Atualmente, temos zero estresse, apenas nos preços”.
Os ativos brasileiros tem caído durante a maior parte do ano, em meio a um escândalo de corrupção na Petrobras que ajudou a desencadar uma crise política em Brasília que prejudicou os esforços do governo para conter o aumento do déficit orçamentário e reduzir a inflação. Os yields de bonds indexados à inflação subiram para mais de 7 por cento, contra menos de 4 por cento no fim de 2012. E o real apresenta o pior desempenho do mundo entre as principais moedas este ano, chegando a atingir uma minima historica de cerca de R$ 4,25 por dólar em setembro. Apesar de o real ter se recuperado um pouco desde então, Figueiredo disse que não se surpreenderia se os investidores desvalorizassem a moeda para R$ 5 por dólar em algum momento. Um em torno de R$ 3 por dólar seria mais justo, disse ele.
“Em termos de valor intrínseco, os ativos do Brasil são muito baratos — e você não precisa para os mais complicados”, disse Figueiredo.
Oportunidades de investimento Ele se une a um coro crescente de vozes que dizem que estão procurando oportunidades no Brasil. Mark Mobius, da Franklin Templeton Investments, disse no mês passado que estava buscando ações baratas, enquanto três das cinco principais posições de Bill Gross no Janus Global Unconstrained Bond Fund, de US$ 1,4 bilhão, atualmente são apostas em dívidas brasileiras. E os gestores de ativos de mais da metade dos 10 fundos locais mais bem classificados do país disseram no mês passado que estão, com cautela, comprando ações novamente.
O fundo hedge macroeconômico de Figueiredo, conhecido como Maua FIC FI Multimercado, se destacou nos últimos tempos. Subiu 5 por cento nos últimos 30 dias, superando 99 por cento de seus pares e colocando-se acima de 58 por cento deles este ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. O desempenho do fundo nos últimos cinco anos foi mais fraco, superando apenas 22 por cento de seus pares, mostram os dados. Um dos fundos menores da Mauá, conhecido como Arbitragem Master FI Multimercado, supera 84 por cento de seus pares nos últimos 30 dias e 81 por cento nos últimos cinco anos.
Figueiredo está envolvido com os mercados brasileiros há décadas após começar sua carreira como um jovem corretor de ações quando ainda estava terminando a faculdade. Ele entrou no BC juntamente com o renomado gestor Armínio Fraga, em 1999, meses apenas depois de o país desvalorizar o real. Outra crise surgiria três anos depois, quando a iminente eleição do líder sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva desencadeou a preocupação de que o país renegaria suas dívidas. Os yields de seus bonds em dólares subiram para mais de 20 por cento antes de Lula prometer tomar medidas para reduzir o déficit orçamentário.
Medidas de austeridade
Como naquela época, o Brasil precisará solucionar seus problemas fiscais agora, disse Figueiredo. O déficit orçamentário subiu para o equivalente a 9 por cento do produto interno bruto, o maior em pelo menos duas décadas, e a recessão diminuiu a receita tributária necessária para financiar os recentes aumentos nos gastos. O Congresso, focado nos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, atrasou diversas vezes votações de medidas de austeridade fiscal fundamentais.
“A dinâmica fiscal é muito ruim”, disse Figueiredo.
Contudo, em um país que possui US$ 370 bilhões em reservas estrangeiras, Figueiredo não vê motivos para pânico. Em 2002, as reservas totalizavam menos de US$ 40 bilhões. O Brasil “não vai quebrar”, disse ele.