Fim da década de cotas na UE pode causar excesso de açúcar

Por Agnieszka de Sousa com a colaboração de Isis Almeida.

A Europa está prestes a ficar muito mais doce.

Após uma década de cotas, as empresas de açúcar da União Europeia agora podem produzir e exportar o quanto quiserem. Empresas como a francesa Tereos e a alemã Suedzucker vêm ampliando as operações para se prepararem para a mudança, o que ajudará a alimentar um excedente global de açúcar.

A eliminação das cotas — o último dos limites agrícolas da UE — também pode provocar grandes mudanças no comércio global de açúcar. Com o aumento da produção da UE, haverá menos necessidade de importar a oferta de lugares como a África e o Caribe.

Apesar de o setor se preparar há anos para a mudança, ela pode pressionar ainda mais os preços, que caíram 28 por cento em 2017, pior desempenho do índice da Bloomberg para 22 commodities. Na UE, a colheita de beterraba atualmente está a pleno vapor e testes mostram rendimentos superiores à média na França e na Alemanha, maiores produtoras da região.

“Temos uma grande safra a caminho”, disse Ruud Schers, analista do Rabobank International em Utrecht, na Holanda. O banco prevê que a produção da UE crescerá 23 por cento na temporada que começou em 1o de outubro.

As cotas que terminaram neste fim de semana foram estabelecidas em 2006 como preparação para a eliminação gradual dos limites impostos pela primeira vez na década de 1960 para garantir a segurança alimentar, que foram rejeitados pela Organização Mundial do Comércio. As cotas limitaram a quantidade de açúcar que os produtores da UE podiam vender no mercado interno e aumentaram as importações.

O fim das restrições ajudará a UE a ampliar as exportações em quase 50 por cento nesta safra, para 2,2 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). Outros analistas projetam embarques ainda maiores. As exportações da França, a maior produtora regional, por si só, podem triplicar para mais de 1 milhão de toneladas, estima a agência FranceAgriMer, de produtos agrícolas e do mar.

A UE respondeu por cerca de 10 por cento da produção global de açúcar na safra passada, segundo o USDA. A região produz açúcar a partir de beterrabas da região ou refinando a oferta bruta importada de países de clima tropical. As refinarias continuarão limitadas a carregamentos isentos de impostos de alguns países menos desenvolvidos e a importações a taxas reduzidas de certos países.

Os preços do açúcar da UE, há anos negociado com ágio em relação ao preço mundial, deverão se alinhar mais às taxas globais, segundo o Rabobank. Os preços médios da UE são de cerca de 500 euros (US$ 590) por tonelada, segundo a Comissão Europeia. O valor contrasta com o de cerca de US$ 361 por tonelada dos futuros do açúcar branco negociados em Londres.

A eliminação das cotas pode ser uma boa notícia para os consumidores, segundo o Investec Bank.

“Pode resultar em uma redução de custos para fabricantes de alimentos, de produtos farmacêuticos e outros que usam açúcar”, disse Callum Macpherson, chefe de commodities da Investec em Londres, por e-mail. “Isso pode resultar em redução de custo para o consumidor final.”

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