Fim da era do dinheiro fácil vai testar os mercados globais

Por Christopher Anstey.

Após uma década inundando suas economias com dinheiro, os principais bancos centrais do mundo finalmente começarão a fechar as torneiras no ano que vem.

Desde a crise financeira, essas instituições mantiveram os juros perto de zero e algumas compraram trilhões de dólares em títulos públicos e corporativos. A ideia era que os juros baixos incentivariam gastos por empresas e consumidores.

Os experts discordam sobre o quanto o estímulo funcionou no sentido de incentivar crescimento econômico amplo, mas praticamente ninguém discute duas conclusões: o dilúvio de dinheiro impediu um colapso financeiro global e ajudou a impulsionar títulos e ações para níveis recordes. Agora as autoridades acreditam que suas economias estão fortes o bastante para andar com menos estímulo.

Nos EUA, o Federal Reserve deu o primeiro passo em outubro, permitindo o vencimento de uma parcela dos títulos em seu balanço patrimonial de US$ 4,5 trilhões sem substituir os papéis. O Banco Central Europeu ainda está adquirindo títulos públicos e corporativos, mas recentemente delineou um plano para começar a diminuir essas compras a partir de janeiro. Na China, a expectativa é que as autoridades segurem o crescimento do crédito no ano que vem, à medida que o presidente Xi Jinping trabalha para desarmar riscos financeiros. O Banco do Japão deve continuar imprimindo dinheiro, porém não o bastante para compensar o recuo dos estímulos dos bancos centrais, provavelmente a partir de meados ou final de 2018.

“Muitos investidores ficarão preocupados porque ninguém está realmente preparado”, disse Nader Naeimi, gestor de fundos da AMP Capital Investors em Sydney, que ampliou sua posição em instrumentos de altíssima liquidez para 30 por cento, antecipando um movimento de piora nos mercados de renda fixa e variável. “Vai doer – precisa doer, senão as condições financeiras ficarão flexíveis demais.”

Sondagens com investidores globais mostram que, na opinião deles, o aperto monetário será a causa mais provável da próxima recessão.

Para Pierre Chartres, diretor de investimentos em juros prefixados da M&G Investment, uma consideração fundamental para estimar o impacto sobre o mercado será a inflação. Se a oferta de dívida aumentar por causa do recuo dos bancos centrais ao mesmo tempo em que a inflação se acelera, ele pretende evitar títulos de longo prazo.

Também aumenta a incerteza o fim dos mandatos de três dos comandantes dos quatro bancos centrais mais importantes do planeta. Os mesmos fatores devem convencer seus sucessores a diminuir o estímulo monetário. A maioria das economias registra crescimento sólido. Os mercados de trabalho voltaram ao chamado pleno emprego. A renda das famílias dos EUA é recorde. Países europeus assolados por crises, como a Espanha, recuperaram suas perdas econômicas. A China afastou temores de uma crise de dívida. E até o Japão saiu de um longo ciclo de pequenas recessões.

É verdade que os índices de inflação não atingem as metas estabelecidas e o fato de os preços não subirem é sinal de que a expansão econômica será menor do que o desejável. Porém, as autoridades estão deixando essa preocupação de lado e focando em limitar os excessos financeiros que podem levar a outro crash.

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