Por John Lauerman.
As duas reluzentes salas de cirurgia de um hospital em Kingston, no estado de Nova York, continuam novinhas em folha sete anos depois de sua construção, que custou US$ 5 milhões: elas nunca viram nem verão nenhum paciente.
Com uma taxa de ocupação de pouco mais de 50 por cento, o hospital de 150 leitos, seu centro cirúrgico e um departamento de emergências reformado em 2011 por US$ 6 milhões será fechado e transformado no que o novo proprietário chama de “uma vila médica” de serviços ambulatoriais, como fisioterapia e serviços de saúde comportamental.
A história do prédio de 123 anos, localizado em uma pequena cidade a cerca de 160 quilômetros ao norte da cidade de Nova York, se repete em todos os EUA. Os hospitais estão desaparecendo porque a pressão do governo para reduzir custos transferiu o atendimento a unidades independentes, a consultórios médicos e até mesmo à casa dos pacientes. Agora, com a eleição de Donald Trump e sua promessa de anular o Obamacare, os hospitais estão mais vulneráveis que qualquer outro prestador de assistência médica às grandes rupturas que vêm pela frente, porque poderiam perder fundos governamentais e enfrentar o aumento de pacientes sem seguro médico ou menos rentáveis.
“A situação tem sido muito difícil para os hospitais”, disse Jason McGorman, analista da Bloomberg Intelligence. “Eles precisam entrar em outras áreas e negócios para liberar verbas e gerar margens melhores com o atendimento de pacientes internados, que se tornou um negócio de crescimento lento.”
Adaptar-se ou fechar
O momento de um possível desmanche da Affordable Care Act (Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente), a lei de assistência médica que é a marca registrada do presidente Barack Obama, é altamente incerto, porque os republicanos não chegaram a um acordo sobre como implementá-lo nem sobre o que substituirá o programa. No entanto, independentemente do destino do Obamacare, a tendência rumo a atendimentos ambulatoriais mais baratos está obrigando os hospitais a se adaptar ou a fechar.
Os principais fatores por trás da mudança são os responsáveis por pagar as contas hospitalares — as seguradoras e o governo –, que buscam reduzir as dispendiosas internações com uma mistura de limites ao reembolso e incentivos. O programa Medicare para idosos é o maior responsável por pagar os atendimentos médicos no país, mas reduzir os custos do programa Medicaid para os pobres, que é financiado conjuntamente pelos governos estaduais e federal, também é um dos principais focos. Alguns estados — como Nova York, Texas e Califórnia — estão tão ávidos por reduzir suas contas do Medicaid que concedem milhões de dólares a sistemas hospitalares para que eles recriem os atendimentos de forma a reduzir a necessidade de leitos.
Atendimentos médicos relacionados também sofrem com o fechamento de hospitais, disse Mark Holmes, diretor do Programa de Pesquisa sobre Saúde Rural da Carolina do Norte, um centro de pesquisa acadêmica sem fins lucrativos.
“O hospital é o nexo do sistema de saúde”, disse ele. “Se o hospital for embora da cidade, os médicos que atendem lá também irão embora.”
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.