Esta análise foi elaborada por Damian Sassower, analista da Bloomberg Intelligence.
Spreads dos mercados emergentes buscam suporte enquanto China abre torneira de liquidez
Os spreads dos títulos emitidos por empresas de economias emergentes mostram forte correlação com as ações. As perdas no mercado acionário chinês contribuem para o atual quadro de fraqueza. As condições de liquidez estão melhorando na China, mas o financiamento barato não foi suficiente para sustentar as ações durante o crash da bolsa em 2015-16, que provocou a ampliação dos spreads dos papéis de países emergentes.
China exacerba fraqueza dos spreads dos títulos
As perdas nas bolsas em mercados emergentes contribuem para o aumento dos spreads dos títulos denominados em dólares. As ações do setor de tecnologia da China puxam a queda. Os spreads dos títulos de emergentes têm profunda ligação com o retorno das ações nesses mercados. A correlação chega a 89,9% (R-squared: 80,9%) com base em três anos de dados diários. As gigantes chinesas de tecnologia Tencent, Alibaba, Baidu e JD.com arrastam as bolsas emergentes para baixo, dado que as quatro representam 10,6% do valor de mercado total do MSCI EM Equity Index.
As ações de tecnologia dos EUA podem ter impacto desproporcional sobre as ações e spreads de ativos emergentes, dada a intensa correlação entre as FAANG (Facebook, Apple, Amazon.com, Netflix e Google) e as quatro grandes empresas de tecnologia da China.
Mercado acionário chinês causa angústia entre credores de mercados emergentes
A incerteza no mercado acionário chinês é motivo de angústia para os credores de companhias de nações emergentes porque a acomodação da política econômica por lá ainda não foi capaz de conter quedas recentes, trazendo comparações com o crash de 2015-16. As ações chinesas caíram 43,3% entre junho de 2015 e janeiro de 2016, provocando a disparada dos spreads dos títulos de emergentes. O Bloomberg Barclays EM U.S. Dollar Aggregate Index perdeu 2,6% do valor de mercado naquele período. Desde o pico atingido no final de janeiro, o Shanghai Composite Index caiu 22,9%, enquanto o índice de referência para títulos denominados em dólares de nações emergentes caiu 2,5%.
A China responde por 18,7% do Bloomberg Barclays EM U.S. Dollar Aggregate Index. O spread médio ajustado para opções aumentou 65 p.b. ou 30,2% desde que o mercado acionário de lá começou a recuar, no final de janeiro.
Liquidez barata na China talvez não seja a cura para os títulos corporativos de mercados emergentes
A liquidez barata pode ser um gatilho para o crescimento econômico na China, mas talvez não dê suporte de curto prazo às ações e dificilmente aliviará a pressão sobre os spreads dos títulos corporativos de países emergentes. A volatilidade realizada no mercado acionário diminuiu quando a China permitiu a queda acentuada dos custos de captação, no início de 2015. No entanto, o dinheiro barato não produziu ganhos sustentáveis no mercado acionário. A taxa de recompra overnight na China despencou para o menor nível desde o crash de 2015 e os swaps de juros com prazo de um ano caíram um ponto percentual ao longo do ano.
A volatilidade no mercado acionário chinês mais que dobrou em 2018 e contribui para o aumento dos spreads dos títulos corporativos de mercados emergentes. O spread do CDX de 5 anos de mercados emergentes calculado pela Markit aumentou 62 p.b. ou 52% desde o começo do ano.