Foco no Fed ameaça bonança de moedas latinas após Brexit

Por Aline Oyamada e Filipe Pacheco.

As moedas da América Latina foram beneficiárias indiretas da decisão do Reino Unido, em referendo, de deixar a União Europeia. Mas não espere que isso dure muito tempo, dizem os principais analistas para a região.

O real e o peso chileno tiveram os dois melhores desempenhos entre as moedas emergentes na semana seguinte ao referendo de 23 de junho. As moedas tiraram proveito de seu relativo isolamento em relação ao Reino Unido e, no caso do Brasil, da alta taxa de juros. Apesar de os ganhos das duas moedas já estarem se evaporando, elas ainda mantêm valorização de 18 por cento e de 6,3 por cento neste ano, respectivamente.

Para a corretora polonesa Cinkciarz.pl, que liderou o mais recente ranking da Bloomberg de projeções para moedas da América Latina, esses ganhos são exagerados. A corretora de câmbio prevê perdas maiores com a diminuição da demanda pelas commodities e pelo fato de os EUA estarem mais perto de elevar a taxa de juros.

“Embora o fator Brexit seja positivo para as moedas da América Latina, elas ainda são fortemente atreladas às commodities”, disse Marcin Lipka, analista da Cinkciarz.pl em Varsóvia. “Os yields tendem a se recuperar nos Estados Unidos. Isso reduzirá um pouco o sentimento bullish”.

Lipka prevê que o real cairá 6,5 por cento até o fim do ano, para R$ 3,60 por dólar, e que o peso chileno — ainda a segunda moeda emergente de melhor desempenho desde o Brexit — terá declínio de 2 por cento, para 680. O sol peruano, que tem o terceiro melhor desempenho desde o referendo, deverá enfraquecer 2 por cento, para 3,35 por dólar, prevê o analista.

Refúgio em emergentes

A posição de investimento de segurança é mais normalmente reservada a ativos do Japão e da Suíça, não aos latino-americanos. Mas o choque do Brexit está virando as normas estabelecidas de ponta-cabeça. As moedas brasileira e chilena, em particular, têm tido demanda devido à dependência desses países das exportações de matérias-primas — algo que o Reino Unido já não compra tanto após anos de declínio de sua indústria. Menos de dois por cento das exportações dos dois países foram para o Reino Unido no ano passado.

A maior parte dos ganhos das moedas latino-americanas ocorreu logo após o referendo do Brexit. O real subiu 3,9 por cento entre 23 e 30 de junho — maior ganho não apenas entre as divisas emergentes, mas entre as 31 principais monitoradas pela Bloomberg. Parte do ganho foi perdida após a intervenção do Banco Central.

As moedas latino-americanas, incluindo o real, o sol e o peso chileno, apresentam ganho neste ano por causa do dólar que se fortalece, embora as economias destes países continuem fracas, diz Eric Viloria, estrategista do Wells Fargo e segundo no ranking de previsões para a região no último trimestre.

Ele prevê que o real perderá 1,6 por cento neste ano, para R$ 3,42 por dólar, enquanto o peso chileno cairá 2 por cento, para 680.

Para os ganhos continuarem “precisamos ver uma melhora sustentável nos fundamentos, bem como uma melhora significativa no lado fiscal, e isso é algo que levará tempo”, diz Viloria, de Nova York. “Estimamos que o panorama instável do mercado financeiro global contribuirá para uma fragilidade das moedas emergentes a curto prazo”.

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