Fundos de hedge voltam a captar, mas seguem fracos

Por Stephen Gandel.

O ano está sendo péssimo para os fundos de hedge nos EUA, mas isso não impede que as pessoas despejem dinheiro em veículos de investimento caros e de desempenho inferior nem que alguns entusiastas dos fundos de hedge digam, equivocadamente, que a performance do segmento melhorou.

No ano passado, foram retirados US$ 70 bilhões dos fundos de hedge, segundo acompanhamento da HFR. Aparentemente, isso indicava que — depois de nove anos do que pode ser caridosamente classificado de desempenho morno — os investidores finalmente se deram conta do erro. Não é bem assim. Neste ano, voltaram US$ 1,2 bilhão para os fundos de hedge. Na segunda-feira, o The Wall Street Journal atribuiu a reversão, em parte, a um desempenho melhor.

Não passa de um desejo.

De acordo com a HFR, o fundo de hedge médio acumulava alta de 5,4 por cento entre janeiro e agosto (último mês de dados disponíveis). Tal performance — por gestores de investimento frequentemente considerados os mais espertos de Wall Street — é 3,5 pontos percentuais pior do que os investidores teriam se, em 31 de dezembro de 2016, tivessem colocado cegamente 60 por cento do capital em um fundo de índice amplo que acompanha o mercado acionário e o resto em títulos e não pensado mais nisso durante oito meses.

Os fundos de hedge dedicados somente a ações foram melhor, com alta de 8,3 por cento entre janeiro e agosto, bem perto do resultado obtido com a carteira teórica 60/40 acima. No entanto, a referência para essa categoria é o S&P 500, que subiu 11,9 por cento no período, ou 3,6 pontos percentuais a mais do que os fundos do grupo voltado somente para renda variável.

Talvez esses números sejam generosos demais. A taxa de retorno de 5,4 por cento é a média para todos os fundos de hedge, independentemente do tamanho de cada um. Os maiores foram pior neste ano. Por exemplo, o Pershing Square Holdings, de Bill Ackman, com US$ 10 bilhões em ativos, acumula queda de quase 8 por cento entre janeiro e agosto. O famoso David Einhorn também anda penando. Se o desempenho for ponderado pelo tamanho, a taxa de retorno dos fundos de hedge cai para 4,4 por cento. Usando esta métrica, a desvantagem dos fundos de hedge em relação ao S&P 500 é de 7,5 pontos percentuais em 2017. Sendo assim, este ano tem sido pior do que a média, não melhor. Desde o início de 2008, na média, a desvantagem dos fundos de hedge em relação ao S&P 500 passa de 6,5 pontos percentuais. Talvez por causa dessa performance terrível, uma taxa de retorno de 5 por cento seja comemorada. A esta altura, a expectativa é muito baixa.

O caminho usado pelos fundos de hedge para obter esse desempenho regular também preocupa. De acordo com relatório divulgado pelo Goldman Sachs em meados de agosto, quatro das cinco ações mais presentes nas carteiras deles eram Facebook, Amazon.com, Alibaba Group Holdings e Alphabet (dona do Google). São as mesmas ações na carteira de todo o mundo. Segundo o The Wall Street Journal, outros fundos de hedge estão ganhando em cima de apostas na queda das varejistas. Não são estratégias que justifiquem taxas de administração elevadas.

O que realmente está levando dinheiro para fundos de hedge não é a melhora de desempenho e sim a transição no setor, na direção de carteiras diversificadas e menos negociação de ativos. Recentemente, diversos grandes fundos de hedge reduziram taxas de administração bastante salgadas. Isso também ajuda.

Tudo isso faz com que os fundos de hedge pareçam melhores nas análises feitas para clientes como grandes fundos de pensão. Mas até agora, é tudo jogo de cena.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião da Bloomberg LP e seus proprietários.

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