Fundos de pensão brasileiros já jogaram a toalha para 2016

Por Francisco Marcelino e Julia Leite.

Para os maiores investidores institucionais do Brasil, o ano que vem não traz muitas esperanças.

A Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar estima que o retorno dos fundos de pensão deve ficar abaixo da meta atuarial média em 2016, o que seria o quarto ano consecutivo sem cumprir a meta. Mesmo em um país famoso por alguns fracassos notáveis, esta seria a maior sequência de retornos abaixo da meta em pelo menos 20 anos.

Os problemas que afetam os fundos de pensão são os mesmos que todos os investidores no Brasil enfrentam: contração econômica, a inflação mais alta dos últimos 12 anos, o rebaixamento da nota de crédito soberano para abaixo de grau de investimento por duas agências de risco e turbulências políticas, como o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O real tem o segundo pior desempenho entre as moedas de países emergentes este ano, o Ibovespa caminha para o terceiro ano consecutivo de queda e os juros da dívida externa soberana dispararam.

“Já tivemos crises piores, mas nunca tivemos crises tão prolongadas”, disse José Ribeiro Pena Neto, presidente da associação, a Abrapp, em uma entrevista. “Não estamos em um mercado diferente do de outros investidores. Sofremos o que o mercado sofre”.

Como os problemas políticos e econômicos do país estão corroendo os preços dos ativos, é provável que os fundos só cumpram as metas em 2017, disse Pena Neto. E até isso depende de um fator: o Brasil fazer “a lição de casa” no ano que vem para tirar o país de sua recessão mais longa desde a Grande Depressão, segundo ele. A economia brasileira deve contrair 3,5 por cento este ano e 2,5 por cento em 2016, de acordo com estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.

Certo alívio

A Abrapp projeta que os fundos de pensão terão um retorno entre 5,4 por cento a 11,99 por cento este ano, abaixo da meta atuarial média, de 15,94 por cento, de acordo com informações no site. A meta é definida a partir de um cálculo que envolve os passivos de longo prazo e a correção pela inflação.

Contudo, no longo prazo, o desempenho dos fundos de pensão supera as metas atuariais, com um retorno médio acumulado de 2.335 por cento de 1995 até junho de 2015 contra a meta de 1.315 por cento, de acordo com a Abrapp.

Outro fator também traz certo alívio: no mês passado, o governo modificou as regras de solvência dos fundos de pensão. De um um modo geral, as entidades de previdência complementar ganharam mais tempo para equacionar eventuais déficits.

“A regra nova não vai deixar de provocar o equacionamento, de provocar
aportes,” disse Pena Neto. “O que ela vai fazer é suavizar o equacionamento na maior parte dos casos.”

Inflação

Com o IPCA rodando na casa dos 10,5 por cento ao ano, tem sido impossível cumprir as metas, de acordo com Pena Neto.

“Quanto maior a inflação, pior para os fundos de pensão”, disse ele.

Os fundos de pensão são os maiores investidores na dívida interna brasileira e administravam um total combinado de R$ 724 bilhões em ativos até agosto, o equivalente a 12,7 por cento do PIB brasileiro, de acordo com a Abrapp.

“O grande problema hoje é resolver o problema político, moral que o país entrou,” disse ele. ”O país vai ter que se encontrar, senão é o caos.”

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