Por Tara Lachapelle.
A geração dos millennials é notoriamente avessa a rótulos. Agora é a vez do mercado de fusões e aquisições se posicionar da mesma forma.
Uma das principais tendências de 2017 foi o fim das separações entre setores. Varejistas estão comprando empresas de software e empreendimentos online, operadoras de telefonia celular tentam controlar conteúdo e a Amazon.com, a soberana do e-commerce, comprou a rede de supermercados Whole Foods Market.
A convergência de setores continua sendo tema vigente em pequenas e grandes transações. Isso significa que profissionais de bancos e analistas especializados talvez precisem estudar mais outros segmentos. Também pode ficar mais difícil prever quais serão os setores mais ativos em fusões e aquisições. Em vez disso, é preciso prestar atenção nas motivações para a realização de negócios, disse Russell Thomson, sócio-gerente para serviços de M&A da Deloitte.
Algumas das maiores transações da atualidade são as chamadas megafusões verticais, como a proposta da rede de farmácias CVS Health para compra da operadora de planos de saúde Aetna. Acordos como este são motivados pela diminuição das oportunidades de crescimento em certas linhas de negócios e também pelas economias de custos proporcionadas pela escala em todo ponto da cadeia de suprimentos.
Essas transações também podem ajudar a superar barreiras antitruste. Por exemplo, advogados da operadora de telefonia AT&T estão enfatizando a natureza vertical da aquisição do grupo de mídia Time Warner para obter a aprovação do governo americano ao negócio.
Também chamam a atenção os acordos menores, de natureza incremental. Estes se concentram em ativos de tecnologia – toda empresa quer ser uma empresa de tecnologia atualmente. De fato, o primeiro motivo estratégico de fusões e aquisições em 2018 será a aquisição de ativos tecnológicos, segundo uma pesquisa feita pela Deloitte com 1.000 executivos e líderes do ramo de private equity.
Palavras como software, digital e tecnologia têm aparecido com mais frequência nos comunicados de companhias como Walt Disney, General Electric, Ford Motor e Office Depot. Esses investimentos em tecnologia fazem parte dos esforços para lidar com a transformação das necessidades dos clientes. Nenhuma dessas empresas deu uma cartada tão radical — ou cômica – quanto uma fabricante de bebidas de Long Island que mudou seu nome para Long Blockchain, no mês passado, tentando aproveitar o fervor pela bitcoin e pela tecnologia por trás da moeda digital.
Globalmente, fusões e aquisições movimentaram US$ 2,7 trilhões no último ano, a menor quantia desde 2013. A realização de negócios nos EUA foi contida durante a maior parte do ano, uma vez que os líderes das empresas enfrentavam incertezas em relação a marcos regulatórios importantes e a ambiguidade da Casa Branca. No final de 2017, surgiram duas grandes operações: a fusão CVS-Aetna e a oferta da Disney de pagar US$ 66 bilhões pela maior parte dos ativos de televisão e cinema da 21st Century Fox. Para 2018, quase dois terços dos participantes da pesquisa da Deloitte esperam negócios maiores. Thomson afirma que há otimismo em relação a transações maiores e mais frequentes.
Parte da motivação é que os executivos reconhecem o sucesso de transações passadas. Apenas 12 por cento afirmaram que a maioria de suas operações não atendeu às expectativas de retorno ou geração de valor, comparado a 40 por cento na pesquisa realizada no segundo trimestre de 2016. É um aspecto ignorado, mas encorajador – se for verdadeiro. Com os múltiplos das aquisições se mantendo elevados, especialmente nos EUA, é preciso haver mais evidências de que há mais acordos por razões inteligentes do que por desespero. Um bom exemplo é a indústria de alimentos.
Justificadas ou não, as megafusões tendem a voltar com tudo em 2018 e talvez não se encaixem perfeitamente em uma categoria específica. Esses acordos também testarão a capacidade dos líderes das companhias de agir fora de suas zonas de conforto.
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