Gadfly: B volta aos Brics por enquanto, mas Ásia ainda chama

Por Christopher Langner.

Investir no Brasil rapidamente deixou de ser o pior dos negócios e agora é o melhor. A tentativa de avaliar se as ações e os bonds do país poderão subir mais após o rali deste ano depende da visão sobre as commodities. O mais certo é que, na comparação com as economias asiáticas de crescimento mais rápido, os mercados do país parecem caros.

O real teve uma valorização de 9,3 por cento até esta altura do ano em relação ao dólar, superando todos os seus pares dos mercados emergentes e reduzindo parte da queda de 33 por cento de 2015. O Ibovespa, referência do mercado de ações, está em alta de 23,9 por cento e tem o melhor desempenho entre os principais índices. Os bonds brasileiros em dólares apresentaram o maior rali entre os grandes mercados emergentes, apesar de a Moody’s ter rebaixado o país pela segunda vez em menos de um ano em fevereiro, para Ba2.

Agora, analistas de empresas como Credit Suisse estão exortando os investidores a aumentarem as apostas no Brasil e a reduzirem a exposição à Índia.

Os preços das commodities são uma das razões: até quarta-feira, a correlação de 30 dias entre o índice acionário MSCI Brazil e o índice Bloomberg Commodity estava em 61 por cento, o mais alto desde setembro. Com poucas exceções, essa correlação tem sido consistentemente positiva nas últimas duas décadas.

A alta das commodities é boa para Brasil, Rússia e África do Sul, que exportam matérias-primas, e ruim para China e Índia, que em grande parte as importam. Além disso, porém, há poucos motivos que justifiquem abandonar a Ásia e ir para o Brasil no momento.

Contração econômica

Veja o crescimento econômico, pilar básico para os lucros corporativos. A economia do Brasil encolheu 3,8 por cento no ano passado e a mediana das projeções em uma pesquisa da Bloomberg com economistas aponta nova queda, de 3,3 por cento, neste ano. Enquanto isso, a China cresceu 6,9 por cento e se expandirá 6,5 por cento neste ano, segundo a previsão, enquanto a Índia registrou um avanço de 7,3 por cento e deverá igualar esse desempenho neste ano.

Algumas pessoas argumentarão que a China e a Índia podem estar falsificando os números. Mas os dois países definitivamente estão crescendo e o Brasil não.

E há o problema da moeda. Embora a China tenha mais de US$ 1 trilhão em dívidas corporativas offshore em circulação, o país tem uma economia de US$ 10,8 trilhões. (O número indiano é mais baixo devido a regras aplicadas aos empréstimos internacionais).

O Brasil SA teve calotes recorde no ano passado e as investigações de corrupção estão sendo ampliadas para incluir algumas das maiores empresas. A Petrobras sozinha tem US$ 52 bilhões em bonds offshore em circulação e o total corporativo é de quase US$ 280 bilhões em dólares, euros, ienes e outras moedas que se tornaram mais caras após a desvalorização de 13,8 por cento do real nos últimos 12 meses. A economia do Brasil, em comparação, é de US$ 1,8 trilhão.

Depois vêm as métricas. O índice MSCI Brazil denominado em dólar tem um coeficiente preço/lucro de 43,5 vezes, contra 9,3 para a China e 21,9 para a Índia.

Certamente uma recuperação contínua das commodities impulsionaria as empresas do Brasil, assim como um sinal mais claro de que Dilma Rousseff, a pouco popular presidente da República, está perto de sofrer um impeachment. Mas esses são grandes “se” e, em todo caso, é improvável que toda essa espuma se traduza rapidamente em dividendos maiores.

Essa coluna não necessariamente reflete a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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