Por Paula Sambo e Julia Leite.
A disparada das problemáticas construtoras brasileiras está deixando os operadores do mercado confusos.
As ações da PDG Realty e da Rossi Residencial, que no ano passado anunciaram planos para reestruturar dívidas em meio à recessão que tem restringido a demanda por novas casas, registraram cada uma um salto de pelo menos 180 por cento desde 1º de janeiro. O salto contrasta com um ganho de pouco mais de 8,2 por cento do índice de ações latino-americanas.
Mas se você pedir aos investidores que identifiquem o catalisador para tais ganhos desmesurados, eles vão reconhecer que estão no escuro. Bernardo Rodarte, que administra cerca de US$ 310 milhões na Sita Corretora, diz que alguns operadores podem estar especulando que as companhias vão se beneficiar de uma diminuição da turbulência política que frustrou os esforços para reanimar a maior economia da América Latina ou dos sinais de que o Banco Central está pronto para seguir cortando juros. Mas ele é rápido em apontar que essas estão longe de ser razões convincentes para apostar em construtoras.
“É realmente um pouco desconcertante para nós o porquê de essas ações estarem avançando tanto”, disse ele, de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Rodarte não é o único que avalia o rali das ações como inexplicável. Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos, diz que, embora qualquer notícia positiva tenha um efeito grande sobre as ações das empresas, por mais baratas que estejam, há poucas razões para ser tão otimista.
A PDG, com sede no Rio de Janeiro, agora é negociada a apenas R$ 3,47 (US$ 1,1) depois de seis anos consecutivos de perdas. A Rossi, com sede em São Paulo, acumula perdas anuais desde 2010, caindo para R$ 1,96 no ano passado, de um pico de mais de R$ 700 em 2007.
Há boas razões para ser cético em relação ao salto das ações e às perspectivas futuras para as companhias. As vendas de residências no Brasil afundaram 9 por cento no ano passado até novembro, de acordo com os dados mais recentes disponíveis do instituto imobiliário nacional. Além disso, os economistas consultados recentemente pelo Banco Central reduziram suas projeções de crescimento para 2017 e o Fundo Monetário Internacional alertou para uma quase estagnação neste ano.
O cenário sombrio explica por que as endividadas PDG e Rossi têm duas recomendações de venda cada uma e nenhuma recomendação de compra ou manutenção, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Isso coloca-as em um conjunto de ações com o pior consenso de recomendações entre mais de 300 empresas latino-americanas.
PDG e Rossi não responderam aos pedidos de comentários.
“Realmente parece não haver uma razão forte o suficiente para uma apreciação tão impressionante”, disse Suzaki, da Lerosa Investimentos, de São Paulo.
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