Argentina: Gastos presidenciais exagerados na corrida para as eleições lembram rota para o calote de 2001

Por Charlie Devereux e Dominic Carey.

Uma estranha sensação de déjà-vu vem à tona ao se olhar para o ritmo de acúmulo de dívidas na Argentina, mais acelerado que em 2001, ano do seu famoso calote.
 

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O governo anunciou, na semana passada, que o déficit primário, que exclui pagamento de dívidas, saltou para 17,4 bilhões de pesos (1,93 bilhão de dólares) em março, comparado com um superávit de 3,6 bilhões de pesos apenas um ano antes. A última vez que a Argentina havia anunciado um déficit em março foi em 2001, três meses após renegar um histórico de 95 bilhões de dólares de dívidas.

Tipicamente, o país entra em dívida em dezembro e recupera o saldo no decorrer do ano. As vendas de safras de soja frequentemente inflam a receita de março.

Em vez de segurar os gastos, a presidente Cristina Fernández de Kirchner está esbanjando durante um período de recessão prolongada, em ano eleitoral. Ela cumpriu dois mandatos consecutivos e pode não concorrer a um terceiro, pela Constituição do país.
 

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Poucos discordam de que ela deixa a Argentina em melhores condições que quando seu falecido marido, Nestor, herdou uma economia dilacerada após o maior calote da história financeira. A dívida Argentina representa hoje 27 por cento do PIB – um terço do nível da Grã-Bretanha – segundo Miguel Bein, conselheiro-chefe econômico de Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires e principal candidato a presidente pela aliança de Fernández.

O problema é que os gastos fiscais estão subindo da mesma forma que, como há uma década atrás, o boom das commodities está acabando. Isso priva o governo da receita de exportações agrícolas que alimentou o superávit em 2011. Ao mesmo tempo, a capacidade do governo de vender sua dívida no mercado de capitais está empatada pela batalha de dez anos com investidores que se recusaram a aceitar os termos da reestruturação de títulos.

“É insustentável a receita estar crescendo a 20 pontos percentuais a menos que os gastos”, disse Belen Olaiz, economista na Abeceb.com, empresa de pesquisa econômica em Buenos Aires. “É um gap que você vai ter de fechar em algum momento.”

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