Por Saijel Kishan.
Howard Fischer, de camisa branca e calça cáqui, sentado em uma cadeira perto da janela de um bar em Greenwich, Connecticut, nos EUA, toma um gole de um café frio e conta sua angústia.
“É horrível, horrível”, diz o gerente de 57 anos da Basso Capital Management, que administra ativos de US$ 1,1 bilhão, sobre os retornos dos hedge funds nos últimos anos. “Se essa for a expectativa normal, eu fiquei sem negócio”.
O lamento de Fischer e de vários de seus colegas ressoa em todo o setor. Trata-se de uma crise existencial dos antigos mestres do universo, que se orgulhavam de suas proezas no mercado. Agora, eles estão questionando a própria sabedoria e a capacidade para gerar os lucros que os transformaram em algumas das pessoas mais ricas das finanças.
O setor de US$ 2,9 trilhões registrou retornos anuais médios de 2 por cento nos últimos três anos, muito abaixo da maioria dos fundos de índice, segundo dados compilados pela Bloomberg. O desempenho baixíssimo e as queixas das taxas altas feitas por planos de previdência e outros investidores provocaram a retirada de US$ 51,5 bilhões de hedge funds nos primeiros nove meses do ano, o maior valor desde a crise financeira, mostram dados compilados pela Hedge Fund Research. Cerca de 530 fundos foram liquidados no primeiro semestre, em um ritmo que produzirá a maior quantidade de paralisações desde 2008.
Os gerentes jogam a culpa da deformação do mercado em uma montanha de dinheiro de fundos de índice e na negociação por meio de algoritmos. Eles reclamam das políticas de juros quase zerados dos bancos centrais, das decisões políticas e econômicas tomadas no exterior e das regulamentações dos governos por estarem minando seu trabalho. A tudo isso se soma a incerteza econômica internacional e um avanço da tecnologia, que está transformando o processo de investimento. Por isso aqueles que eram considerados os melhores de todos duvidam de si mesmos.
Para alguns, os desafios se tornaram insuperáveis. Richard Perry, um dos primeiros gerentes de hedge funds, desistiu de sua Perry Capital no mês passado, após quase três décadas, dizendo que seu estilo de investimento já não funcionava mais. Traci Lerner devolveu o dinheiro de sua Chesapeake Partners Management em junho, depois de 25 anos, dizendo que os efeitos adversos da crise financeira geraram um ambiente de investimento hostil. Martin Taylor e Nick Barnes, que fecharam o fundo Nevsky Capital, com sede em Londres, em janeiro, disseram que os mercados movidos por computadores eram incompatíveis com a maneira que operavam.
Essa frustração se sente dos dois lados do Atlântico. George Papamarkakis, cujo principal fundo na North Asset Management, uma empresa de US$ 1 bilhão com sede em Londres, caiu cerca de 10 por cento neste ano, compara o baixo desempenho do setor a uma doença crônica.
“Há tristeza por toda parte”, disse Papamarkakis, 46, em uma churrascaria no Midtown de Manhattan durante uma visita aos EUA na semana passada. A crise financeira “foi uma morte súbita para muitas pessoas, como um infarto, mas isto para muita gente é como um câncer, uma morte lenta”.
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