Demanda em queda, valorização cambial e condições climáticas que seguram os preços dos alimentos vêm garantindo a queda da inflação e justificando expectativas de mais cortes nos juros pelo Banco Central. Para as empresas, isso significa reavaliação constante da gestão do caixa, com a perspectiva de custos menores e taxas menores para captação e também retorno menor em suas aplicações.
No entanto, um ritmo mais acelerado de cortes na taxa básica Selic pode criar um ambiente de condições monetárias mais relaxadas, no qual a inflação ficaria acima da meta do BC de 4,5%, colocando em xeque a trajetória de queda dos juros e a credibilidade dos esforços da instituição.
Choques deflacionários na oferta, o elevado grau de ociosidade na economia e a demanda contida por bens e serviços devem continuar reprimindo reajustes de preços, o que se reflete nas projeções implícitas do mercado para o IPCA e para a evolução da Selic neste ano e no ano que vem.
Embora o processo de desinflação esteja convencendo agentes do mercado a apostar em Selic na casa de um dígito neste ano, o modelo da BI Economics — que incorpora hipóteses distintas daquelas utilizadas pelo BC — sugere que seria prematuro reduzir a Selic para abaixo de 9% em 2017. Esse nível para a taxa básica de juros ampliaria o hiato do produto em 2018, fazendo a demanda agregada por bens e serviços superar o produto potencial. Como demora cerca de nove meses para mudanças de juros impactarem os preços praticados na economia, o IPCA ficaria próximo de 5,0% no ano que vem.
Sendo assim, outra grande dúvida para o cenário de inflação e juros é o ritmo de retomada da economia ao longo do ano. O hiato do produto pode ter efeito mais desinflacionário do que o mercado projeta e, por isso, além das projeções implícitas nos contratos futuros de juros, também vale acompanhar as estimativas de PIB dos analistas com histórico comprovado de projeções acertadas.
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COPOM EST = Projeção do mercado para cortes no Copom
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Mediana dos economistas projetam taxas de juros abaixo de 10% já em Q3 17
Neste contexto, o BC precisaria encontrar a calibragem ideal da Selic para assegurar o cumprimento da meta de inflação e proporcionar condições para a retomada da atividade econômica. A BI Economics calcula que juros nominais em 10,5% em junho e 9,25% em dezembro seriam consistentes com o IPCA em 4,2% no primeiro semestre do ano que vem e em 4,5% em 2018 e 2019.
Além da Selic, a taxa de câmbio tem papel fundamental na definição dos níveis de inflação e juros. A forte valorização do real nos últimos meses é responsável por boa parte da contenção dos preços e seu impacto ainda não foi esvaziado, dado que grandes variações na taxa de câmbio afetam os preços de bens transacionáveis com defasagem de três a seis meses.
A variável taxa de câmbio também será influenciada pela evolução da política monetária nos EUA. Um estreitamento do diferencial de juros tende a causar depreciação da moeda brasileira e deterioração do cenário prospectivo para a inflação.