Gestora brasileira aposta em árvores para contornar crise

Por Filipe Pacheco com a colaboração de Rafael Mendes, Ney Hayashi e Paula Sambo.

Em um cenário dominado pela crise econômica e tumultos políticos nos últimos anos, investidores em ativos de Brasil têm procurado diversas formas de investimentos que sejam imunes a turbulências.

A Claritas Investimentos, gestora com sede em São Paulo, encontrou um bom negócio: fundos que investem majoritariamente em árvores de eucalipto. A empresa começou a comprar terras florestais no Brasil e a vender a celulose produzida pelas árvores após o período de tumulto que agitou os mercados globais em 2008. E a aposta se provou lucrativa. Dois fundos florestais da Claritas, que têm combinados R$ 635 milhões em ativos, entregam retorno médio anual de 17,5 por cento desde 2008, com os preços da celulose subindo 42 por cento desde sua mínima em mais de uma década em 2009. O mercado de ações do Brasil, enquanto isso, amargou investidores com prejuízos médios de 4,7 por cento na mesma comparação.

A Claritas agora trabalha em um projeto para lançar seu terceiro fundo florestal. A empresa, que tem R$ 3,5 bilhões em ativos sob gestão e conta com fundos de pensão locais entre seus clientes, cultiva eucaliptos nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia e Tocantins, onde possui uma fazenda de 130.000 hectares.

“Esses são ativos que crescem durante o ano todo, não importa se há uma crise ou não”, disse Helton Lopes, engenheiro florestal da Claritas, contratado há três anos para ajudar a administrar os fundos.

Do escritório da Claritas na Avenida Brigadeiro Faria Lima, principal distrito financeiro de São Paulo, o CEO Carlos Ambrósio e Lopes mapeiam regiões do país nas quais acreditam ser viável a constituição dos fundos. Eles vendem a celulose a empresas brasileiras como a Suzano Papel e Celulose. A gigante exportadora de celulose está entre as maiores beneficiárias da desvalorização de 38 por cento da moeda brasileira nos últimos dois anos.

A Suzano não respondeu imediatamente a um e-mail e a um telefonema em busca de comentário sobre suas aquisições de celulose.

O maior país da América Latina oferece certas vantagens, segundo Ambrósio. Uma delas é que no Brasil o eucalipto leva cinco a sete anos para atingir um tamanho que permita o corte. Esse tempo contrasta com a média de sete a 10 anos dos EUA e com os mais de 15 anos necessários na Europa. O Brasil também registra um alto índice de chuvas e ostenta sofisticadas tecnologias de bioengenharia, disse Ambrósio.

“Nosso objetivo era oferecer uma alternativa de diversificação para clientes internacionais e institucionais”, disse ele em entrevista no escritório da empresa. A Claritas inicialmente considerou a possibilidade de investir em soja e cana-de-açúcar, “mas a safra estraga se você não faz a colheita. Isso não acontece com a madeira. Se a economia não vai indo bem, você simplesmente não corta as árvores. E elas vão continuar crescendo”.

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