Por Ben Bartenstein e Aline Oyamada.
Enquanto a turbulência política alimenta a volatilidade nos mercados do Brasil, algumas das instituições globais que mais investem no País enxergam um porto seguro nos títulos públicos.
Gestoras de recursos como Ashmore Group e Pacific Investment Management Co. (Pimco) afirmam que foi exagerada a queda dos papéis no mês passado, quando surgiram acusações de que o presidente Michel Temer teria dado aval para compra do silêncio do ex-presidente da Câmara de Deputados Eduardo Cunha, que está preso. O otimismo dessas gestoras é motivado pela ideia de que as reformas econômicas defendidas por Temer – e aplaudidas por investidores – eventualmente sairão, não importa quem esteja ocupando o Palácio do Planalto.
“O Brasil parece atraente no momento”, disse Jan Dehn, chefe de pesquisa em Londres da Ashmore, que supervisiona aproximadamente US$ 52 bilhões em ativos. “Eu gosto mais agora do que antes.”
O tombo no preço dos ativos brasileiros no mês passado abriu espaço para compra de títulos a preços atraentes, segundo Dehn. Os papéis em moeda local pagam 8 pontos percentuais de rendimento acima da inflação, um dos maiores spreads observados nos mercados emergentes.
A queda acentuada de 18 de maio reverteu o sentimento que prevalecia no País. Antes, os investidores previam que Temer iria dar fim à pior recessão em um século, sanar a situação fiscal e conter a inflação — expectativas que garantiram aos ativos brasileiros as melhores taxas de desempenho do mundo no ano passado.
O revés ocorreu após revelações de que executivos do frigorífico JBS implicaram Temer no esquema de compra de silêncio. Em seguida, o Ibovespa sofreu a maior baixa em oito anos e os títulos denominados em dólar tiveram a maior queda já registrada.
Seja o que for que acontecer com Temer — impeachment, renúncia ou conclusão do mandato, em janeiro de 2019 —, Dehn acredita que as iniciativas econômicas dele vão vingar. Mesmo com forte oposição popular, Temer tenta implantar uma ampla reforma da previdência, vista como necessária para firmar a situação financeira do País, além de flexibilizar leis trabalhistas e conter os gastos públicos para cumprir o teto aprovado no ano passado.
Para quem tem estômago para enfrentar a montanha-russa de volatilidade, diante da queda dos juros, os títulos brasileiros representam valor superior ao das ações, segundo Monty Guild Jr., diretor de investimentos da Guild Investment Management. A recomendação dele, em março de 2016, de compra de ações brasileiras em meio à campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff se mostrou acertada. O Ibovespa deu retorno de 25 por cento nos 14 meses seguintes. Se Temer ficar ou partir, Guild acha que sua agenda de reformas estabilizará a economia brasileira.
Mas ele tem menos confiança na bolsa e entende que, de modo geral, o potencial avanço já está embutido nas cotações.
“Claramente, mais crises podem acontecer”, disse Guild. “O Brasil se tornou muito menos previsível.”
Um atraso nas metas de Temer no Congresso pode causar mais danos ao PMDB do que à economia ou às finanças do País, uma vez que mudanças nas regras da previdência não teriam impacto notável sobre as contas públicas antes de 2019, afirmou Gene Frieda, estrategista global da Pimco que trabalha em Londres.
O real e os títulos em moeda local estão entre os ativos favoritos de Frieda nos mercados emergentes, considerando o prêmio de risco atraente criado pelo escândalo envolvendo Temer e também a perspectiva de eleição de um presidente reformista no ano que vem.
“De uma perspectiva mais ampla, independentemente da política, até que ponto o Brasil é vulnerável?”, colocou Frieda. “Não importa o que acontecer com este presidente, é razoavelmente provável que o presidente em 2018 será um reformista.”
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