Por Tatiana Freitas, Fabiana Batista e I. Almeida.
O pedido de recuperação judicial de uma trader de soja brasileira está provocando efeitos em cascata em toda a indústria agrícola, afetando algumas das gigantes do setor em um momento em que os resultados já estão sendo prejudicados pela abundância de oferta global.
A Seara Indústria e Comércio Ltda, que não tem relação com a unidade de aves da JBS de mesmo nome, entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado após fracassar na tentativa de reestruturação de R$ 2,1 bilhões (US$ 660 milhões) em dívidas com credores como Rabobank, Credit Suisse e o fundo de investimento Amerra Capital Management LLP. Entre os detentores de dívidas da companhia também estão a Bunge, uma das maiores operadoras e processadoras agrícolas do mundo; uma unidade da potência de commodities Sumitomo, do Japão; a gigante agroquímica Bayer; e a CHS, a maior cooperativa agrícola dos EUA.
A CHS, que durante vários anos manteve a Seara como uma de suas principais fornecedoras de soja para exportação e forneceu recursos para a trader brasileira, é a maior credora da companhia, com R$ 680 milhões em dívidas, segundo documentos judiciais. O Rabobank é o segundo maior, com R$ 254 milhões. A Bunge Alimentos possui R$ 56 milhões.
O Rabobank, o Credit Suisse, a Amerra, a Bunge e a Bayer não comentaram o assunto. A CHS foi “surpreendida” pelo pedido de recuperação judicial da Seara, informou a cooperativa por e-mail, em resposta a perguntas.
As traders agrícolas vêm sofrendo com os vários anos de queda dos preços agrícolas, mas a situação tem sido particularmente difícil para as empresas brasileiras. A profunda recessão do país piorou as condições de crédito, enquanto a valorização do real em relação ao dólar nos últimos 12 meses reduziu a competitividade das exportações do país. A seca severa de 2016 também reduziu a colheita de milho do país.
Empresa familiar
Para a Seara, uma empresa familiar fundada há 60 anos no pequeno município de Sertanopólis, no Paraná, atrasos nos pagamentos de créditos tributários totalizando R$ 600 milhões também prejudicaram o fluxo de caixa da empresa, informou a companhia por e-mail em resposta a perguntas. Problemas nas operações logísticas também contribuíram para o pedido de recuperação judicial da empresa, segundo a assessoria de imprensa.
Apesar de o pedido de recuperação judicial ter gerado preocupação em relação à capacidade da Seara de cumprir contratos de entrega de grãos, a CHS espera que os embarques de produtos “chegarão conforme o programado, sem interrupção”. A cooperativa está “gerenciando a situação ativamente para entender e responder a qualquer impacto potencial ao nosso negócio e aos nossos funcionários”, informou a CHS, sem dar mais detalhes.
A Agro Amazônia Produtos Agropecuários, distribuidora de fertilizantes controlada pela Sumitomo, também aparece na lista de credores não pagos. A companhia, do estado do Mato Grosso, fornecia sementes e produtos agroquímicos à Seara, segundo seu CEO, Luiz Piccinin.
A Seara opera quatro terminais e movimentou 2 milhões de toneladas de grãos no ano passado. As receitas somaram R$ 3,5 bilhões em 2016, segundo a assessoria de imprensa da empresa.
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