Gigantes perdem relevância na recuperação do S&P 500

Por Elena Popina.

A atual recuperação das bolsas nos EUA foi repentina, robusta e decididamente abrangente, marcada pela menor importância das companhias de valor de mercado gigantesco, que dominaram o S&P 500 durante dois anos.

O movimento fez uma pausa na semana passada, mas ainda proporcionou o melhor começo de ano nas bolsas americanas em quase três décadas, trazendo US$ 1,7 trilhão. Um aspecto notável é o papel das empresas menores – ou pelo menos das não colossais. Uma versão de igual ponderação do S&P 500 — que remove o viés de valor de mercado — superou o índice de fato em 2,3 pontos percentuais.

É uma vantagem pequena, mas uma mudança em relação ao quadro alarmante de liderança do mercado por um punhado de empresas nos últimos anos. No momento, o S&P 500 de igual ponderação — que dá a mesma influência à Apple e a uma companhia relativamente pequena, como a rede de escritórios de contabilidade H&R Block — supera o índice ponderado por valor de mercado há seis semanas consecutivas, a sequência mais longa desde 2016.

“Em um ambiente de mercado saudável, é algo que tende a acontecer – uma maré que sobe e empurra tudo para cima”, disse Jack Ablin, diretor de investimentos da Cresset Wealth Advisers. “Quem sabe o mercado decidiu que o desempenho superior das Nvidias da vida não vai continuar.”

Entre as 10 ações que mais subiram no S&P 500 neste ano, oito têm valor de mercado inferior a US$ 30 bilhões. A alta é embalada pela postura branda do banco central (Federal Reserve) em relação a acréscimos nos juros, o que é um potencial impulso a companhias mais alavancadas. Outro fator é a rotação das carteiras, saindo de tecnologia e indo na direção de ações dos setores imobiliário e industrial, que abrigam menos gigantes.

Participação mais ampla e ganhos das ações de empresas de pequeno e médio porte costumam ser comemorados por analistas e por quem trabalha selecionando ações.

Ainda assim, o movimento não é totalmente uniforme. Alphabet (dona do Google), Amazon.com, Netflix e Facebook continuam em alta. Mas um índice que reúne as 100 maiores ações está atrás do mercado como um todo, com alta de 9,2 por cento neste ano, comparado a ganhos de 11 por cento no S&P Midcap 400 e 12 por cento no Russell 2000.

No mês passado, a vantagem do índice de igual ponderação sobre o S&P 500 foi a maior desde 2011.

Essa participação mais abrangente começa a aliviar preocupações com o retorno desigual, determinado por um punhado de ações. Entre a eleição presidencial em 2016 e o pico do mercado, em setembro passado, Nvidia, Netflix e Amazon.com estiveram entre as 20 ações que mais subiram.

Em 2019, a liderança é da Xerox (com valor de mercado de US$ 6,7 bilhões) e da fabricante de brinquedos Mattel (US$ 5,3 bilhões). Um motivo do avanço talvez seja a postura explícita do banco central em relação aos juros, que diminui temores em relação ao custo da dívida das empresas menores. Outro é a visão de que o crescimento da economia americana não está freando tanto quanto alguns previam em dezembro.

A desvantagem das chamadas megacaps ocorreu junto com a debandada dos fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs). Segundo dados da EPFR, nas primeiras seis semanas do ano, foram US$ 30 bilhões em resgates, o pior início de ano desde que a firma começou a compilar esses fluxos, em 2000.

Talvez não seja mera coincidência. Resgates de fundos que acompanham índices prejudicam desproporcionalmente as grandes empresas porque, para a maioria delas, o peso nos índices é definido pelo valor de mercado.

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