Globo e UNE juntas contra o impeachment agora e a favor em 1992

Por André Soliani.

Raramente do mesmo lado nas últimas décadas, a Rede Globo e a União Nacional dos Estudantes voltam a se encontrar compartilhando a mesma trincheira, dessa vez contra a campanha pró-impeachment da presidente da República.

Parceria semelhante só foi vista em em 1992, mas aí a favor da derrubada do então presidente, Fernando Collor de Mello, e no fim das campanhas pela volta do voto direto no Brasil, em 1984, durante o movimento das Diretas Já.

Nas últimas semanas, com a aproximação das manifestações marcadas para 16 de agosto, movimentos sociais tradicionalmente ligados ao PT passaram a militar em coalizão com empresários e líderes do PMDB.

O crescimento das mobilizações e declarações de líderes da oposição a favor do afastamento da presidente também fizeram se manifestar a favor de Dilma Rousseff os maiores veículos de comunicação do País, representantes do setor financeiro e da indústria.

“A última semana foi um ponto de inflexão na crise”, disse ’’, disse João João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da empresa de consultoria de risco político Eurasia Group. “A crise saiu de um ponto de maior radicalização para um de mais moderação.”

O jornal O Globo, crítico das políticas de Dilma, instou os políticos a garantirem à presidente condições de manter a “governabilidade” e acusou de irresponsáveis os políticos contrários às medidas de austeridade, em um editorial publicado em 7 de agosto.

Aliada próxima

Carina Vitral, presidente da UNE, tradicionalmente um aliado próximo do Partido dos Trabalhadores, disse, na quinta-feira, que os estudantes iriam se opor a tentativas de derrubar Dilma. Ela falou em um evento no Palácio do Planalto, organizado pela presidente para mostrar o apoio de movimentos sociais, incluindo a CUT, a maior organização sindical do País.

Em 1964, mesmo ano em que O Globo apoiava o golpe militar em um editorial, posição da qual mais tarde o grupo se desculpou, a sede UNE, no Rio de Janeiro, foi metralhada e incendiada.

Firjan e Fiesp divulgaram comunicado conjunto, em 6 de agosto, “em prol da ‘‘governabilidade do País’’, apoiando as declarações na véspera pelo vice-presidente, Michel Temer. Um pedido de moderação também foi emitido pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, em entrtevista a O Globo em 8 de agosto.

‘‘Há uma crescente compreensão por amplos setores da sociedade de que o pior pode vir se Dilma cair’’, disse André César, sócio-fundador da Hold Assessoria Legislativa, uma empresa de consultoria de Brasília. ‘‘O governo marcou alguns gols na última semana’’, disse César, que duas semanas antes havia dito a seu pai durante um almoço que governo Dilma havia terminado.

‘Fato novo’

Agora, assim como Augusto de Castro, César diz que teria de haver um ‘‘fato novo” para reacender a mobilização pelo impeachment. A grande incógnita continua sendo a Operação Lava Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público que investiga casos de corrupção na Petrobras e já levou à prisão executivos das maiores empreiteiras do País e do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

“Ainda não existe nenhum cano fumegante, nenhuma bala de prata” para derrubar Dilma, disse Augusto de Castro. “É difícil prever vai aparecer algum até o fim das investigações. Até agora, o que temos visto são crimes que a cercavam, mas não há nenhuma evidência ligando Dilma a eles”
O que está ficando cada vez mais claro para os brasileiros é que recorde de baixa popularidade, uma recessão e alegações de incompetência não são o suficiente para o impeachment de um presidente, disse Augusto de Castro. Como isso não impedirá centenas de milhares de pessoas de marcharem em protesto no domingo, ele ainda aponta chances de 70 por cento de Dilma concluir o seu mandato.

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