Governo encontra clima morno para Previdência após recesso

Por Samy Adghirni.

A poucos dias da retomada da agenda legislativa após o recesso de fim de ano, o governo de Michel Temer se depara com um cenário de poucos avanços no esforço para tentar aprovar a reforma da Previdência em fevereiro.

Dois dos principais aliados de Temer, o ministro da articulação política, Carlos Marun, e o vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur, disseram na terça-feira que o número de deputados favoráveis à proposta continua em torno de 270 – mesmo patamar de dezembro. Longe, portanto, do mínimo de 308 votos necessários à aprovação do texto na Câmara. Marun e Mansur falaram com jornalistas ao sair da primeira reunião de líderes da base aliada convocada neste ano pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O ano legislativo começa na próxima semana.

O governo esperava que o recesso permitiria aumentar a base de apoio parlamentar à reforma da Previdência, peça chave da agenda governista para equilibrar as contas públicas e relançar a economia. A aposta era que as peças de propaganda veiculadas na mídia ajudariam a diminuir a resistência da população e, consequentemente, aliviariam a pressão sobre os deputados em ano eleitoral. Temer chegou a dizer, em dezembro, que os parlamentares voltariam das férias “muito mais animados para votar a reforma em fevereiro”.

Mas Mansur admitiu que resistências continuam. “Você tem problemas em todas as bancadas, desde a bancada do partido do presidente, que é o MDB, até as menores bancadas. Em todo lugar você tem eventualmente um questionamento aqui e ali, uma indecisão aqui e ali, ou alguém que está contra verdadeiramente, que é uma coisa que respeito”, disse. Mansur afirmou que os líderes saíram da reunião com Maia com a missão de retomar nos próximos dias o diálogo com suas respectivas bancadas sobre o tema.

Também presente no encontro, o ainda não empossado novo líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão, disse à Bloomberg que é cedo para avaliar “se tem clima para votação da Previdência ou não” em 19 ou 20 de fevereiro, como o governo prevê.

O líder do PSD na Câmara, Marcos Montes, disse que o “recesso só serviu para o tempo passar e ficarmos mais perto da eleição”. Segundo Montes, “a dificuldade aumenta a cada momento” à medida em que a eleição se aproxima.

O cenário de incertezas expõe divergências dentro da base. Enquanto Rodrigo Maia vem repetindo que só submeterá o texto ao plenário da Câmara se houver garantias de aprovação, Beto Mansur se disse na terça-feira favorável a manter a votação prevista em fevereiro independentemente do cálculo de votos. “Defendo a ideia de que tem que ir a voto. Perca ou ganhe, tem que tirar isso da frente. Respeito a opinião do Maia porque é ele quem cuida da agenda, mas eu tenho a minha opinião”.

Apesar das dificuldades, o governo mantém discurso otimista e aposta que novas mudanças no texto podem trazer os votos necessários para aprová-lo. “O governo só tem o plano AA: Aprovação Agora”, disse Marun.

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