Grandes consultorias entram cautelosamente no mercado de ICOs

Por Julie Verhage e Lily Katz.

Ofertas iniciais de moedas digitais renderam bilhões de dólares para startups e atraíram criminosos e autoridades ao redor do mundo. Agora, as quatro grandes firmas globais de consultoria e contabilidade podem colaborar para a faxina nesse mercado.

Nos últimos meses, essas firmas começaram — cautelosamente – a oferecer serviços especializados no arriscado mercado para ICOs (initial coin offerings). Esse mecanismo de captação, pelo qual uma empresa cria uma moeda digital e vende ao público, ficou grande demais para ser ignorado pelas “Big Four”. No ano passado, as ICOs geraram US$ 5,6 bilhões, incentivadas por investimentos especulativos, segundo relatório da firma de pesquisas TokenData e do fundo de investimento Fabric Ventures, focado na tecnologia blockchain.

Esse crescimento chamou a atenção dos órgãos reguladores. China e Coreia do Sul baniram ICOs em setembro. Nos EUA, a comissão de valores mobiliários (SEC) distribuiu intimações ao longo do ano e, na semana passada, interrompeu uma emissão de moedas digitais alegando que os fundadores “orquestraram uma ICO fraudulenta”.

Talvez as firmas de consultoria ajudem as empresas a navegar esse mercado — ou sejam arrastadas para escândalos.
“O que temos feitos é aconselhar alguns investidores e clientes sobre se devem ou não fazer uma ICO”, disse Eric Piscini, responsável por blockchain no grupo de serviços financeiros da Deloitte Consulting. “Não quero dizer que nossa postura seja de aversão a risco, mas de esperar para ver o que acontece com as ICOs porque o ambiente regulatório muda muito rápido.”

A hesitação quando se trata de ICOs contrasta com a animação de Deloitte, PricewaterhouseCoopers, EY e KPMG em relação à blockchain já em 2012. Essas firmas logo produziram pesquisas e dedicaram equipes à tecnologia, que funciona como uma espécie de planilha distribuída mais rápida e segura do que os sistemas usados por bancos e outros setores.

A mania das moedas digitais embala o mercado de ICOs. O conceito se destacou internacionalmente pela primeira vez em 2016, quando a Dao levantou mais de US$ 150 milhões em poucos dias.

Desde então, o negócio se expandiu e as ICOs captaram mais de US$ 500 milhões em um mês em meados do ano passado. A Telegram Group, dona do aplicativo de mensagens criptografadas de mesmo nome, captou US$ 1,7 bilhão na maior ICO já feita e estuda realizar outra oferta.

Quando Egor Gurjev decidiu fazer uma ICO para sua startup de videogames em nuvem, chamada Playkey, ele arregimentou a Deloitte. A firma prestou consultoria jurídica durante seis meses antes da ICO da Playkey, que levantou US$ 10,5 milhões em dezembro, segundo Gurjev.

Na PwC, o trabalho envolvendo ICOs ainda se limita a clientes da Ásia e Europa. “Temos sido bem ativos na avaliação do mercado de ICOs nos EUA para criar estruturas abrangentes para nossos clientes”, disse Grainne McNamara, líder de blockchain na divisão de serviços financeiros.

A KPMG começou a aceitar clientes para projetos de ICO em meados do ano passado, após receber muitas indicações de interesse, explicou Eamonn Maguire, responsável por blockchain nos EUA para a firma. “Todos os dias somos contatados a respeito de ICOs.”

A EY também recebe perguntas diárias sobre projetos de consultoria para colocações de moedas digitais. “Estamos trabalhando seletivamente em toda a firma para ajudar empresas a realizar ICOs domésticas e internacionais”, disse Jeffrey Grabow, líder do grupo de venture capital para os EUA. Em cada oferta, a EY toma especial cuidado para informar sobre os diversos riscos envolvidos nos projetos, segundo ele.

“Estamos acompanhando a evolução e constantemente tentando descobrir que papel podemos ou devemos desempenhar.”

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