Grandes empresas perdem controle sobre minas mais ricas do mundo

Por Danielle Bochove com a colaboração de Eko Listiyorini e David Stringer.

Superado em número e cercado, o CEO da Freeport-McMoRan, Richard Adkerson, voltou atrás.

Alguns meses antes, Adkerson havia rejeitado a ideia de vender a participação majoritária na principal mina indonésia de cobre e ouro mantida pela empresa com sede em Phoenix, EUA, a investidores locais. Mas, sentado ao lado de representantes do governo em Jacarta, na semana passada, esse executivo veterano disse a jornalistas que é exatamente isso o que ele pretende fazer.

“Freeport cede às exigências do governo”, informou a manchete do jornal The Jakarta Post, enquanto o Ministério de Energia e Recursos Minerais da Indonésia tuitou com alegria “Freeport obediente, Indonésia soberana” e postou fotos de Adkerson em destaque com uma camisa dourada e preta junto às triunfantes autoridades locais.

Essa imagem — um CEO norte-americano de cara vermelha usando uma camisa tropical, nitidamente voltando atrás em sua decisão — pode assombrar não apenas Adkerson, mas todos os seus colegas CEOs de multinacionais. A decisão da Freeport de entregar o controle de sua joia da coroa indonésia ilustra o desafio maior enfrentado pelo setor da mineração globalmente: em uma ascensão do nacionalismo econômico, os governos e sindicatos locais estão rejeitando o domínio ocidental dos recursos naturais do mundo.

“Estamos vendo o surgimento de governos mais nacionalistas por todas as partes”, disse Paul Mitchell, sócio da prática de mineração e metais da Ernst & Young. “Acho que esse desejo de manter os ativos de um país e explorá-los por conta própria só vai aumentar à medida que percebermos que eles estão ficando escassos, e eles serão cada vez mais escassos.”

Preços

“Os governos começam a ver as empresas ganhando mais dinheiro e, em todo o mundo, começam a ver outras formas de tirar mais disso”, disse Adkerson a analistas, durante a conferência de resultados do segundo trimestre da Freeport, em julho. Essas disputas com governos, aliada ao número maior de greves e ao envelhecimento dos equipamentos de mineração, perturbarão a oferta de metais e “pesarão” sobre os preços, disse ele.

O boom de uma década dos preços do cobre, que atingiu seu pico em 2011, deixou muitos governos ávidos por uma fatia da atividade de mineração. Os preços recuaram, chegando ao seu menor patamar no início de 2016, e desde então se recuperaram parcialmente. O cobre era negociado nesta terça-feira na Bolsa de Metais de Londres no maior patamar em três anos e avançava 0,1 por cento em Nova York, para US$ 6.924 a tonelada, às 9h26 do horário local.

“As pessoas perceberam que as empresas estão produzindo enormes lucros extraordinários, não obstante o fato de os custos de muitas empresas também terem aumentado em meio aos preços mais elevados das commodities”, disse Gus MacFarlane, vice-presidente de mineração e metais da Verisk Maplecroft, firma de pesquisa focada na redução do risco corporativo.

Por enquanto, ao menos, a Freeport pretende continuar operando a mina na Indonésia. Mas algum dia os avanços tecnológicos poderão permitir que os governos federais administrem minas essencialmente por conta própria, desbancando quase inteiramente as Freeports do mundo, segundo Mitchell, da Ernst & Young.

“Eu me pergunto se o que estamos começando a ver é que os governos perceberam isso e começam a agir para se anteciparem”, disse ele. “Será que a ascensão do nacionalismo é apenas nacionalismo ou será os governos estão percebendo que na verdade não precisam mais das empresas de mineração?”

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