Por Gerson Freitas Jr.
As estrelas parecem estar se alinhando novamente para a BRF.
Enquanto uma epidemia de gripe africana que está dizimando suínos da China impulsiona as perspectivas para as exportações de carne, o aumento da oferta de grãos no Brasil e no exterior reduz o custo da empresa com a alimentação de aves e suínos.
O preço do milho usado para ração acumula baixa de 21% nos últimos 12 meses diante da expectativa de safra recorde em 2019. Em contraste, os preços da carne de frango no mercado doméstico deram um salto de cerca de 60%, puxados pelo maior volume de exportação e menor oferta interna.
A relação entre o preço da carne de frango e o custo da ração – uma medida de rentabilidade do setor – subiu para o maior nível desde 2015 para esta época do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. A ração é o principal custo de produção da indústria.
O preço do milho no mercado doméstico deve continuar sob pressão nos próximos meses, com a produção total do grão no Brasil estimada em 96,8 milhões de toneladas este ano e a concorrência mais acirrada com Estados Unidos, Argentina e Ucrânia no mercado externo, disse Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone, em entrevista.
Os preços da soja também perdem força no mercado global, já que a febre suína africana esfria a demanda pela oleaginosa usada na fabricação de ração na China.
O governo chinês tem sido forçado a abater plantéis de suínos para tentar conter a propagação do vírus. A produção de carne de porco na China, o maior consumidor do mundo, deve encolher cerca de 30% este ano, uma queda proporcional à oferta anual da Europa, segundo estimativas do Rabobank International.
Como resultado, os preços da carne e os volumes de comércio – sejam de frango, carne bovina, frutos do mar ou mesmo produtos à base de plantas – devem aumentar e impulsionar as receitas dos principais fornecedores.
A recuperação dos preços reforçou as expectativas de uma retomada da BRF, que no ano passado registrou prejuízo recorde. O resultado foi afetado por diversos fatores, como o veto da União Europeia às exportações da empresa, alvo do Operação Trapaça – um desdobramento da Operação Carne Fraca -, além de uma disputa de acionistas e uma escalada nos custos de produção.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização da BRF pode subir 28% este ano, segundo a média de 14 estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.
Depois de quatro anos consecutivos de perdas, as ações da BRF acumulam alta de 40% desde janeiro e estão entre as com melhor desempenho em um índicede processadoras globais de carne nesse período.
Ainda assim, uma queda nos custos de ração pode levar cerca de seis meses para se refletir totalmente nos resultados, pois a empresa de alimentos continua usando estoques mais caros, disse Leandro Fontanesi, analista do Bradesco, em relatório enviado em 6 de maio aos clientes.