Grupo de empresas brasileiras com grau de investimento pode encolher mais

Por Aline Oyamada.

Investidores que buscam títulos corporativos com grau de investimento no Brasil — que perdeu o selo em 2015 — podem, em breve, ser privados de uma das poucas opções disponíveis.

A Vale corre o risco de ter o seu rating rebaixado para “junk” após o rompimento da barragem em Brumadinho na sexta-feira. As três maiores empresas de classificação de risco fizeram alertas em relação à qualidade de crédito da mineradora, seja rebaixando a classificação para o nível mais baixo da escala de grau de investimento ou alertando que cortes podem ocorrer. Se a Vale for rebaixada, o Brasil ficaria com apenas seis empresas classificadas com o grau de investimento, menos da metade do número de companhias que tinham o selo apenas três anos atrás.

A Vale foi uma das poucas empresas que conseguiram evitar a perda do grau de investimento nos últimos anos, após o rating soberano ter sido cortado diversas vezes em meio ao crescimento da dívida pública, uma economia em recessão e um ambiente político atribulado. Apesar disso, o rompimento da segunda barragem em pouco mais de três anos levou os títulos da cia. a níveis similares aos das empresas classificadas como “junk”.

A Fitch Ratings cortou a classificação da empresa brasileira em dois níveis e disse que pode haver mais por vir, enquanto a S&P Global Ratings e a Moody’s Investors Service alertaram que poderiam fazer o mesmo em breve.

“Com isso, fundos que querem ter exposição a Brasil precisam buscar nomes de menor qualidade com a esperança de elevação dos ratings em algum momento”, disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management em Miami.

O corte do rating da Vale provavelmente se refletiria em outros ativos, segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Não é apenas o crédito da Vale que se tornará mais caro, mas também o crédito do Brasil e o crédito para todas as empresas do Brasil, disse ele em uma entrevista em São Paulo.

Os ativos brasileiros têm sido impulsionados pela esperança de que o governo do presidente Jair Bolsonaro consiga aprovar a reforma da Previdência, além de privatizar as estatais a fim de reduzir o déficit orçamentário e reduzir o tamanho do Estado. As iniciativas são consideradas fundamentais pelas empresas de classificação para levar o país de volta ao status de grau de investimento.

Títulos em dólar emitidos pelo governo e empresas atualmente são negociados com um yield médio de 5,5%, inferior à média dos emissores de alto risco de outros mercados emergentes, que está em 7,8%, segundo os índices da Bloomberg Barclays. Emissores com grau de investimento nos países em desenvolvimento pagam um yield médio de 4,4%. A Suzano, uma das poucas com selo de alta qualidade, reabriu uma emissão de bônus de dez anos na terça-feira pagando um yield de 5,465%, menor do que o pago quando vendeu originalmente as notas em setembro.

Enquanto a maioria das empresas que perderam seu status de grau de investimento nos últimos anos foi arrastada pelo risco soberano, algumas tiveram seus problemas específicos. O caso mais emblemático é o da Odebrecht Engenharia e Construção, que se viu no centro da Lava Jato, o que secou os projetos da companhia e levou a empresa a ser rebaixada para o nível mais baixo possível depois de não cumprir o pagamento de alguns de seus títulos de dívida.

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