Por Agnieszka de Sousa e I. Almeida.
O que assombra o setor açucareiro, de US$ 150 bilhões, não é a forte queda dos preços neste ano. É o medo de as coisas piorarem.
A queda de 16 por cento do açúcar em bruto deixa a commodity em último lugar no ranking de 22 matérias-primas do Bloomberg Commodity Index. Choques para a demanda na Índia, o maior consumidor, e a perspectiva de uma maior oferta da Europa estão ajudando a deslocar o mercado para um superávit, prejudicando os preços. Contudo, nuvens mais escuras pairam além desses amortecedores do mercado.
Após décadas de crescimento estável da demanda, que quase dobrou por pessoa desde 1960, o mundo avança para um ponto de inflexão, sendo que os compradores se voltam contra refrigerantes e doces culpados por uma epidemia de obesidade no mundo rico. Ao mesmo tempo, o açúcar tem que concorrer com xaropes baratos e cada vez mais utilizados nos alimentos processados.
Segundo algumas estimativas, a demanda está aumentando ao ritmo mais lento pelo menos desde a crise financeira global, porque empresas como a Coca-Cola, que consome cerca de 14 por cento do açúcar comercializado, e a Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo, estão reagindo a essas tendências.
A Group Sopex e a Green Pool Commodity Specialists projetam que o crescimento em 2017-2018 não atingirá a média anual de 2 por cento do último decênio. O Departamento de Agricultura dos EUA prevê a primeira queda na demanda em 25 anos.
“O crescimento já não é o que era”, disse Tom McNeill, diretor administrativo da Green Pool, em uma entrevista. “Sem dúvida há iniciativas de engarrafadoras globais e de muitos produtores globais de alimentos para diminuir o conteúdo de açúcar nos produtos deles.”
Reformulações
A Coca-Cola está trabalhando em 200 reformulações de produtos para diminuir o conteúdo de açúcar, disse em outubro o CEO James Quincey. A PepsiCo prometeu que pelo menos dois terços do volume da empresa não terão mais de 100 calorias de açúcares adicionados por porção de 350 ml para 2025.
Cidades americanas como Filadélfia e São Francisco e países como a França e o México acrescentaram “impostos sobre o pecado” reservados anteriormente para cigarros ou bebidas alcoólicas aos refrigerantes açucarados e muitos outros imitarão o exemplo deles. A Organização Mundial da Saúde diz que suas pesquisas mostram que uma alta de 20 por cento no preço de varejo de bebidas gaseificadas provoca uma queda proporcional na demanda.
Além disso, alguns países de renda média são prejudicados por economias fracas. A demanda no Brasil diminuiu cerca de 1 milhão de toneladas nas últimas três ou quatro temporadas, segundo a Sopex e também caiu na Argentina.
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