Por Shira Ovide.
A guerra entre sistemas operacionais recomeçou.
As antigas brigas acaloradas para definir qual é o software operacional dominante em computadores e smartphones já foram resolvidas. A Microsoft conquistou os computadores. Nos smartphones, Android ganhou em termos de volume, e Apple, em termos de lucro.
Agora que a computação está se espalhando por todos lados, dos motores de avião às camisetas, velhos e novos combatentes do setor de tecnologia estão disputando o controle do software subjacente de praticamente qualquer coisa que possa ser feita com um cérebro eletrônico: carros autônomos e componentes veiculares, aparelhos de TV, eletrodomésticos, alto-falantes e muito mais.
É difícil saber como será a última jogada — e até mesmo quais são os objetivos — nesta nova guerra entre sistemas operacionais, mas ela é a briga mais interessante do mundo da tecnologia. Os líderes iniciais são o Google e, surpreendentemente, a Amazon, e a Apple está rondando por aí. A seguir, um breve panorama de alguns dos combatentes:
Google: A principal característica da companhia controladora do Google, a Alphabet, é ser uma desordenada empresa faz-tudo. Ela está promovendo um sistema de entretenimento com base no Android para carros. Está promovendo um sistema operacional Google diferente, Chromecast, para televisores e caixas de vídeo web que se conectam a aparelhos de TV. Google Home é mais uma das tentativas da empresa de se tornar o cérebro digital no centro da casa das pessoas. Na estrada, a empresa anunciou acordos para testar seu sistema operacional para veículos autônomos com fabricantes como a Fiat Chrysler Automobiles.
Amazon: eu já disse antes que a Amazon se tornou um competidor surpreendente na disputa pelo controle do sistema operacional para casas. E a companhia dominou as primeiras horas da gigantesca exposição de produtos eletrônicos realizada nesta semana em Las Vegas. Seu software de televisão ou o assistente controlado por voz Alexa estão chegando aos aparelhos televisores, aos alto-falantes controlados por voz e fabricados pela Lenovo, a eletrodomésticos como fornos e lava-louças, e a um gravador de vídeo digital. Especula-se que a tecnologia de veículos autônomos da Amazon poderia ser o próximo passo.
Apple: A companhia levou seu sistema operacional iOS dos telefones aos sistemas de entretenimento veiculares, a um controlador de aparelhos domésticos como termostatos e fechaduras, e talvez em breve a um sistema tecnológico para carros autônomos. Trata-se de um avanço para a Apple, que vinha confinando seus sistemas operacionais de software principalmente a seus próprios aparelhos de computação.
Os retardatários, até agora: Samsung Electronics vem tentando colocar o software que construiu em suas próprias marcas de televisores, geladeiras, smartphones e outros. Isso não parece promissor. E onde está a Microsoft? Talvez esteja feliz em deixar a briga pelos produtos de computação destinados ao consumidor para os outros e se concentrar no software corporativo, que é extremamente lucrativo, com seu serviço de computação na nuvem Azure, que poderia se beneficiar com a proliferação de coisas com cérebros eletrônicos.
Muitos espólios ficaram com os vencedores das últimas guerras entre os sistemas operacionais. O domínio da Microsoft sobre o software das entranhas dos computadores pessoais lhe conferiu uma base para construir uma das empresas dominantes durante três décadas. A Apple reinventou o smartphone vinculando-o a seu sistema operacional e se tornou a corporação mais valiosa do planeta. É discutível o quanto o Google se beneficiou diretamente de seu controle sobre o Android, mas, no mínimo, o domínio do Google sobre as pesquisas na internet recebeu ajuda do papel do Android em 85 por cento dos smartphones do mundo.
Na atual guerra por todas as outras coisas computacionais, ainda não está claro quais serão os grandes prêmios. Como Google, Apple e outros combatentes no segmento dos veículos autônomos pretendem ganhar dinheiro? Será que a Amazon está atrás de itens controlados por software para atrair mais clientes, para canalizar mais negócios para a unidade Amazon Web Services ou para algum objetivo muito maior na mente de Jeff Bezos?
Como a maioria das disputas do mundo da tecnologia, essa não será barata. Amazon, Apple e Alphabet já investiram coletivamente mais de US$ 35 bilhões por ano no desenvolvimento de novas tecnologias. E a diversidade de coisas conectadas à internet em ambientes industriais e em outros lugares garante que o mercado provavelmente não vai se aglutinar em um ou dois vencedores, como aconteceu com os computadores pessoais, com os servidores de computação e com os smartphones.
É fácil ridicularizar geladeiras e torradeiras “inteligentes” controladas por voz afirmando que a mania tecnológica chegou a extremos. Mas a disputa mais abrangente entre os sistemas operacionais é importante. A competição pelo sistema operacional entre as gigantes do setor de tecnologia moldou a tecnologia de consumo em eras anteriores, e esta nova guerra é a garantia de que os próximos anos serão interessantes e desordenados.
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