Guilherme Ximenes do Banco Inter: A paixão pela tecnologia, com um lado humano

“A mentalidade de dono é fundamental, junto com a ambição e com a crença de que você pode mudar seu escopo, sua área, sua frente de trabalho. É quando você realmente abraça com paixão o seu trabalho. Aí o céu é o limite.”

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Guilherme Ximenes

CTO | Banco Inter, Brasil

Em 2016, Guilherme Ximenes Almeida recebeu a incumbência de liderar a área de Tecnologia da Informação (TI) do Banco Inter, com a responsabilidade de criar um banco digital. “Foi certamente o maior desafio da minha carreira, e o mais gostoso”, diz.

O banco, que então se chamava Intermedium, tinha pouco mais de 5 mil clientes. O nome encurtou, a carteira se alongou. Em quatro anos, os 5 mil clientes se tornaram 7 milhões. Com viés de alta. “Abríamos de 10 a 20 contas por dia. Hoje a gente abre 20 mil.” A revolução foi dar aos clientes um novo meio de acessar os serviços bancários. “O grande desafio foi mudar a abertura de conta, que era feita em papel, para um processo que pudesse ser feito em casa”, afirma Ximenes. “As dores de crescimento, nós vivemos todas. Hoje estamos chegando a um momento de mais capacidade, pensando numa escala ainda maior, para chegarmos a 15 milhões, 20 milhões de clientes”, aponta.

Ximenes era um dos profissionais mais preparados no mercado para comandar a metamorfose do banco no mundo digital; acompanhou de perto a transição da Gol Linhas Aéreas – pioneira na mudança do tíquete de papel para a passagem on-line. Em 2012, quando o programa de fidelidade Smiles se tornou uma empresa independente, foi convidado a criar a área de TI junto com dois colegas. “Este foi outro momento bacana da minha carreira, aprender a montar uma área de TI do zero”, lembra.

O passo errado que deu certo

E tudo isso aconteceu graças a um passo em falso. Aos 27 anos, pensou em mudar de área e migrar para um fundo de asset management. Considerando sua capacidade analítica e vivência profissional, o movimento tinha tudo para dar certo… só que o ano era 2008. Naquele tempo, trabalhava em uma grande consultoria e pediu para ser transferido da área de gestão de sistemas para a de finanças. Com a crise que tomou o mundo inteiro logo em seguida, ficou sem projetos.

“Eu até agradeço por esse passo errado na minha carreira, porque logo descobri que a área pela qual tenho paixão de verdade é a tecnologia”, diz. Ao voltar para ela, pegou desde o início o processo de valorização da TI no mundo das empresas. Acabou descobrindo, inclusive, que seu pai teve ocupação semelhante à sua, como CEO de uma empresa de tecnologia. “Só há cinco ou dez anos eu comecei a entender que ele fazia mais ou menos o que eu estava fazendo: fornecia hospedagem de dados para outras empresas”. Passou a ser, além de fonte de inspiração pela ética e simplicidade, também um mentor.

Inteligência emocional e aprendizado constante

Estar na área certa – aquela em que a paixão encontra a oportunidade – é só um pedaço da receita de sucesso. A outra parte é a dedicação e o aprendizado. Para isso os tempos de consultoria contribuíram bastante, afirma. “Eu sou muito de meter a mão na massa, então gostava de entrar nas empresas para onde era enviado, interagir com todo mundo, aprender.” Essa vivência o ensinou a “chegar jogando”, define.

Tão importante quanto isso foi desenvolver habilidades de relacionamento interpessoal, afirma Ximenes: as “soft skills”. É este, aliás, um dos seus principais conselhos para os jovens. “Tem pessoas que são uma potência mesmo, é só ter um pouco mais de calma que elas vão chegar em níveis muito altos. Mas é preciso ter paciência, controlar a ansiedade – e amadurecer a parte da inteligência emocional junto com a capacidade técnica.”

Estar em contato com a tecnologia também favorece a percepção de que é preciso manter um aprendizado constante. “É uma área em que o que você aprendeu no ano anterior já está ultrapassado”, diz ele. A vantagem é que a necessidade de se atualizar, experimentar novas tecnologias e frequentar fóruns faz com que o profissional cresça de forma sincronizada com o mercado como um todo, não só no ambiente da própria empresa.

Outra sugestão que Ximenes oferece é assumir uma mentalidade de dono. “Ela é fundamental, junto com a ambição e com a crença de que você pode mudar seu escopo, sua área, sua frente de trabalho. Não é só ter comprometimento, às vezes virar madrugadas ou trabalhar nos finais de semana. É quando você realmente abraça com paixão o seu trabalho. Aí o céu é o limite.”

Porque o sucesso no trabalho já não é mais apenas questão de esforço. Vivemos, afirma ele, um processo em que os trabalhos manuais estão sendo automatizados. O que vai fazer a diferença, cada vez mais, é a criatividade, a simplicidade, pensar em soluções, pensar em processos. Para isso, é preciso estar mergulhado na sua profissão.

O poder da análise

Uma boa evidência do quanto Ximenes é dedicado à profissão está em seu lazer. Nas redes sociais, ele segue a revista Wired, o Twitter de Rubens Menin, presidente do conselho do banco, além de grandes nomes do mundo dos negócios, como o cofundador da Microsoft e hoje filantropo Bill Gates. As leituras também têm muito a ver com sua profissão: aprofunda-se em tecnologia e tem predileção por biografias, como as de Steve Jobs (cofundador da Apple), Jeff Bezos (fundador da Amazon), Elon Musk (fundador da Tesla), Phil Knight (cofundador da Nike).

Nas séries, permite-se relaxar no mundo da fantasia, especialmente super-heróis. Mas talvez isso também lhe sirva de inspiração: considera que seu poder especial é a capacidade analítica. Graças a ela acredita que teria sido também um bom cirurgião: “porque o corpo humano é um sistema, e eu gosto muito de sistemas”. Uma atividade menos ligada ao trabalho é o mountain bike. Nela, aproveita as montanhas de Belo Horizonte – cidade em que nasceu e para onde voltou quando entrou no Banco Inter. Por esse esporte ele chega até a acordar às 5h30, para fazer trilhas. “Nada como chegar ao trabalho às 9 da manhã depois de uma hora e meia, duas horas de pedalada”, afirma. Também recupera as energias tocando violão, encontrando os amigos… e brincando com os filhos. “Estou adorando ser pai de novo.” A primeira vez foi há 13 anos, e há dois ele ganhou um casal de gêmeos. “Minha mulher está enlouquecendo, porque as escolas fecharam durante a pandemia, mas está adorando ser mãe de novo”, diz.

Durante 2020, como em tantas empresas, o home office foi intensificado, graças à pandemia. E isso acabou aumentando o número de contratações de fora de Belo Horizonte. “A gente resolveu acelerar, em vez de pisar no freio”, afirma. “Contratamos quase 200 pessoas em 2020, a maioria de BH, mas muita gente de São Paulo, Recife, alguns do Sul.” É uma das formas em que a diversidade está sendo mais implementada no banco.

“A gente agora tem 7 milhões de clientes, são muitas experiências diferentes. Por isso a gente só trabalha em times multidisciplinares”, conta Ximenes. Com a digitalização, ele acredita, o sistema financeiro está ficando mais humano. Outro aspecto da diversidade é o número de mulheres em sua área. A TI sempre foi predominantemente masculina, mas o banco já conta com algo entre 15% e 20% de mulheres na área. “A gente tem um evento que se chama She’s Tech, para incentivar essa entrada de mulheres”, diz.

Segundo Ximenes, a diversidade é um dos componentes do ambiente de trabalho atual, que se parece cada vez mais um caos organizado. “Empresas que eram divididas em departamentos agora têm áreas misturadas”, afirma. “O pessoal vai ter que ser mais flexível. Mais aberto. E aprender o tempo todo”, finaliza.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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