Hábito de estocagem de produtores brasileiros mantém café barato

Por Fabiana Batista.

Os cafeicultores do Brasil, o maior produtor do mundo, estão tendo dificuldades para acabar com o hábito da estocagem — uma boa notícia para os viciados em cafeína que buscam uma xícara mais barata.

Thiago Braga de Oliveira, da terceira geração de uma família de produtores de café do estado de Minas Gerais, vendeu uma parcela da safra suficiente apenas para pagar as despesas da colheita. Depois que o preço da saca de 60 quilos caiu cerca de R$ 100 (US$ 30) nos últimos 12 meses, para em torno de R$ 400, ele mantém as esperanças em uma recuperação antes de vender mais.

“Nosso plano é guardar todo o café que pudermos”, disse Oliveira, que espera colher cerca de 600 sacas de grãos arábica neste ano nas três fazendas de sua família. “Quando os preços superaram os R$ 500, no ano passado, foi difícil convencer os membros da família a vender, porque a maioria acreditava que os preços poderiam chegar a R$ 600.”

Infelizmente para o clã Oliveira e para os diversos fazendeiros brasileiros que estão segurando uma enorme oferta, é provável que eles tenham perdido a melhor chance de venda neste ano e que tenham de fazer negócio a preços mais baixos, segundo Rodrigo Costa, diretor de café para os EUA da trading company brasileira Comexim. O estoque cada vez maior mantido pelos produtores surge em um momento em que os estoques também registram quantidades maiores. Os futuros do arábica registraram quatro quedas mensais seguidos e os hedge funds estão se posicionando para declínios mais profundos.

“Os futuros atuais estão baixos porque a oferta de café verde é muito elevada”, disse Donald Selkin, estrategista de mercado da Newbridge Securities em Nova York, que administra cerca de US$ 2 bilhões. Os estoques adicionais mantidos pelos fazendeiros “limitarão o potencial de alta dos preços a curto prazo”, disse ele.

Apostas pessimistas

Os gestores de recursos expandiram a posição comprada para o café, ou seja, a diferença entre as apostas no declínio dos preços e as apostas na alta, em 49 por cento, para 27.410 contratos, na semana que terminou em 6 de junho, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados três dias depois. Este foi o quarto aumento seguido e a perspectiva mais otimista desde novembro de 2015.

Na ICE Futures U.S., o café arábica caiu 7,7 por cento neste ano. Na segunda-feira, os preços subiram 1,1 por cento, para US$ 1,2790 a libra-peso. A variedade é cultivada principalmente na América Latina e preparada por empresas de cafés especiais como Starbucks.

A colheita de café de 2017 do Brasil já está em andamento, mas os fazendeiros fecharam vendas por apenas 16 por cento da safra esperada até o início de maio, segundo Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado. A fatia contrasta com a média de cinco anos de cerca de 20 por cento nessa época do ano.

Ao mesmo tempo, as chuvas abundantes na maior parte das fazendas de café do país ampliaram as expectativas de produção, disse Barabach. A consultoria elevou sua projeção de produção para o país para 51,5 milhões de sacas em 10 de maio, contra uma estimativa de abril de 51 milhões de sacas.

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