Hedge fund Cartica mantém aposta no Brasil apesar de turbulência

Por Aline Oyamada.

Todo o nervosismo que sacudiu o mercado brasileiro nas últimas semanas não conseguiu abalar o otimismo de Teresa Barger em relação ao país.

A diretora-presidente e co-fundadora do hedge fund Cartica Management, que administra US$ 2,6 bilhões em ativos, mantém perspectivas “muito otimistas” para o Brasil, confiante de que o crescimento na maior economia da América Latina será retomado e de que o Congresso aprovará a reforma da previdência. Isso significa que ela evita acompanhar o processo muito de perto.

“Pode ser enganoso seguir as manchetes da reforma da previdência a cada cinco minutos”, disse Barger, cuja empresa tem sede em Washington. “Algum tipo de reforma da previdência vai ser aprovada.”

Os ativos locais têm subido sempre que os líderes do governo sinalizam apoio à reforma e despencam quando as notícias indicam um possível atraso. Esse foi o caso no mês passado, quando o mercado acionário e o real se desvalorizaram em meio às farpas trocadas entre o presidente Jair Bolsonaro e importantes aliados, como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que, depois de dias de bate-boca, disse que deixaria a responsabilidade de conseguir votos para a reforma a cargo do governo. Um embate esta semana entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e parlamentares que terminou com ele sendo escoltado na saída de uma audiência em um comitê do Congresso depois de uma discussão acalorada teve o mesmo efeito.

Barger diz que as ações brasileiras devem subir com a recuperação da economia até o final do ano e que a reforma da previdência aumentará ainda mais os ganhos. Barger vê 60% a 70% de chance de o projeto de lei ser aprovado este ano e avalia que a reforma precisa gerar economias de pelo menos R$ 600 bilhões para garantir a confiança do mercado.

“A economia do Brasil está na fase inicial do ciclo, e isso ainda é verdadeiro apesar de qualquer volatilidade ligada à reforma da previdência”, disse Berger. “A inflação estruturalmente baixa ajuda a manter as taxas de juros baixas. Se houver reforma, podemos ver uma continuação da redução do custo do capital.”

O Cartica reduziu significativamente seus investimentos no Brasil antes da recessão iniciada em 2015, e voltou a aumentar suas posições cerca de um ano depois, apostando que a desaceleração da inflação permitiria a queda das taxas de juros. O fundo tem atualmente 18% de seus ativos investidos em cinco ações brasileiras nos setores de consumo e industrial.

Uma dos maiores investimentos do Cartica é na empresa de transporte ferroviário Rumo, cujas ações mais do que triplicaram desde julho de 2016, quando Barger disse que começou a comprar os papéis com a aposta de que juros mais baixos facilitariam a desalavancagem da empresa.

Desde então, o Banco Central reduziu a taxa básica em mais da metade, para 6,5%, um recorde de baixa. A relação dívida líquida-Ebitda da Rumo caiu para 2,5 no ano passado comparada aos 6,7 no final de 2015.
A proposta da reforma da previdência poderia gerar economias de mais de R$ 1 trilhão em uma década, e é vista por economistas e investidores como crucial para fortalecer as contas fiscais do país e impulsionar uma economia ainda marcada pelo fraco crescimento.

A recuperação do mercado acionário, que atingiu nível recorde no início deste ano, foi impulsionada pela expectativa de aprovação da reforma, assim como pelos sólidos resultados corporativos, após os drásticos cortes de custos das empresas para lidarem com a pior recessão em um século.

Barger disse que o momento é propício para a aprovação da reforma da previdência, mas não acredita que será um processo tranquilo, e o mercado pode perder força caso haja atrasos. “Eu veria isso como uma oportunidade de compra”, disse.

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