Por Editores.
O discurso de Hillary Clinton em Michigan sobre a economia, na quinta-feira, contrasta claramente com o de Donald Trump, poucos dias antes. Ao contrário de Trump, Hillary acredita em submeter os ouvintes a planos, planos e mais planos.
Ela mesma disse na convenção do Partido Democrata — “Eu transpiro detalhes” — e não vai deixar que ninguém se esqueça disso.
Trata-se de algo bom, até certo ponto. É tão difícil interligar as promessas de Trump, que ninguém sabe o que ele realmente tentaria fazer como presidente. O programa de Hillary compõe uma agenda inteligível: diz muito sobre os acordos que ela tentaria fechar com o Congresso e inclui algumas ideias boas. Mas há um porém.
A visão de Hillary coloca um governo hiperativo no centro de tudo. Raramente, se é que em alguma ocasião, ela vê justificativas para simplesmente tirar o governo do caminho para que o espírito empreendedor americano possa fazer o que faz de melhor — competir e inovar em busca de lucros. As propostas econômicas de Hillary seriam mais atraentes, e teriam mais chances de serem bem-sucedidas, se não fossem tão numerosas.
Hillary promete mandar para o Congresso, por exemplo, um plano abrangente sobre os gastos em infraestrutura assim que estiver na Casa Branca. Entre os objetivos estão disponibilizar internet de banda larga acessível para todas as famílias, além de uma série de investimentos em estradas, aeroportos, transporte público, gestão do tráfego aéreo, escolas, redes energéticas e novas tubulações “para economizar bilhões de galões de água potável”. Para concretizar tudo isso, ela propõe suplementar a receita obtida através dos contribuintes com capital privado, canalizado através de um banco nacional de infraestrutura. Ela também vai “fornecer mais fundos através de auxílios competitivos e baseados no mérito, agilizar as concessões, apoiar projetos ‘multimodais’ que vão além de um único tipo de transporte, equipar a carteira de projetos e estimular o aperfeiçoamento do design e da tecnologia”.
Isso só em infraestrutura. Mas não faltam propostas para os outros tópicos principais do programa dela.
Item por item, grande parte da agenda de Hillary faz sentido. Sem dúvida, a ênfase na infraestrutura é bem-vinda: o investimento público dos EUA caiu para muito menos que o necessário. Escolas bem equipadas são fundamentais para a mobilidade social e o crescimento econômico. A reforma tributária já deveria ter acontecido, e a segurança na aposentadoria e diante de problemas de saúde é uma obra inacabada. Hillary será elogiada por pressionar por todas essas questões. Mas…
Em uma economia de mercado tão dinâmica quanto a dos EUA, governos inteligentes desempenham um papel secundário e facilitador; eles não aspiram a dirigir todos os desenvolvimentos nem a julgar todos os resultados. Eles também estabelecem prioridades, porque compreendem que há um limite para o que eles podem fazer. E o mais importante, eles lutam para conservar o apoio público a um sistema competitivo que tolera rupturas (ou seja, vencedores e perdedores) como um agente de progresso. Talvez por causa de Bernie Sanders e do apoio que ele conseguiu angariar durante sua campanha, este elemento esteve ausente no discurso de Hillary. Sua ambiguidade em relação ao comércio exterior é o exemplo mais marcante.
As propostas de Trump são tão vagas que nem podem ser chamadas de plano — exceto onde ele é diretamente perigoso. Não dá para dizer o mesmo sobre as propostas de Hillary, e as ideias dela merecem ser analisadas seriamente. Às vezes, no entanto, os planejadores mais inteligentes perdem de vista o que é mais importante.
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