Por Leonardo Lara
A nova fábrica de Itirapina, localizada no interior de São Paulo e distante cerca de 100 quilômetros da unidade de Sumaré, tinha originalmente a missão de dobrar, a partir de 2015, a capacidade nominal de produção da marca japonesa no Brasil para 240.000 veículos. Mas a crise econômica do país afetou diretamente o setor automotivo e levou a Honda a adiar algumas vezes a abertura da nova planta.
Até que, em 3 de abril, a montadora japonesa disse que iniciará em 2019 a transferência gradual da produção de automóveis de Sumaré para a nova unidade, abandonando a ideia de que Itirapina dobraria a capacidade produtiva no país. A previsão da Honda é de que a transferência esteja concluída em 2021.
Paulo Takeuchi, diretor executivo de relações institucionais da Honda, disse em entrevista por telefone que quando a Honda decidiu investir R$ 1 bilhão na nova fábrica, o mercado automotivo local vendia 3,8 milhões de unidades e a previsão era de que chegaria a 4 milhões, 5 milhões. “Só que, logo depois, veio a crise e o mercado caiu drasticamente. E isso fez com que, apesar do investimento na fábrica, não tivéssemos a demanda suficiente para iniciar a fábrica”.
O executivo diz que a decisão de ativar Itirapina está mais ligada à busca de competitividade e eficiência do que ao atual momento do mercado automotivo local. “No final do ano passado e início desse ano, o mercado voltou a reagir, porém, apesar da reação estamos falando de um mercado que está em baixa e esse reaquecimento não é uma recuperação do nível pré-crise”.
“Nossa decisão foi interna e calcada na necessidade de se buscar uma competitividade nesse setor”, disse Takeuchi, acrescentando que “obviamente, com a reação do mercado, nova fábrica vai ajudar de uma certa maneira”. Mas ele descarta, no curto prazo, uma reação para o patamar anterior à crise.
“As novas tecnologias que somos obrigados a colocar, seja em termos de segurança e eficiência energéticas, têm custos maiores, só que não conseguimos repassar integralmente aos consumidores”, diz Takeuchi. “Isso exige um esforço muito grande de se buscar a competitividade, principalmente de custo, aumentando a produtividade, para poder de fato absorver parte das inovações tecnológicas”.
A fábrica de Sumaré opera atualmente com 2 turnos de produção e alcançou, em 2017, 134.000 unidades, graças a ajustes pontuais na rotina da unidade, disse ele. Sem detalhar metas para a transferência para a nova fábrica, Takeuchi cita a modernização do processo de pintura e a automação das linhas como fatores que levarão à redução de custos e ganhos de competitividade.
O executivo destaca que a Honda vai transferir para Itirapina todos os funcionários que hoje estão alocados para a produção de automóveis. “Vamos buscar o máximo de eficiência, sem perder nenhum funcionário em Sumaré e também minimizar ao máximo o aumento de pessoas, porque é daí que sai nossa eficiência produtiva”.
No comunicado distribuído à imprensa no início de abril sobre a reestruturação produtiva no Brasil, a Honda diz que “com base no cenário atual, será preciso fortalecer a estrutura de produção de automóveis para garantir a sustentabilidade do negócio para o futuro”. Com a mudança para Itirapina, Sumaré vai se consolidar como centro de produção de motores e componentes, desenvolvimento de automóveis, estratégia e gestão dos negócios do grupo, segundo o comunicado.
Takeuchi disse na entrevista que a Honda trabalha com um cenário setorial para 2018 alinhado com o projetado pela Anfavea, que prevê as vendas de veículos crescendo 11,7% em relação a 2017, para 2,5 milhões de unidades. Especificamente para a Honda, as vendas devem crescer em torno de 5% em 2018, disse o executivo, explicando que este ano mostrará uma recuperação mais rápida nas vendas dos chamados modelos básicos ou de entrada, segmento em que a Honda não está presente.