IA: próxima fase do ciclo hype

Artigo escrito por Rachel Metz e Saritha Rai. Exibido antes no Terminal Bloomberg.

O ChatGPT da OpenAI é muito simples de usar: basta digitar uma solicitação para receber uma resposta possivelmente útil e convincentemente semelhante à de uma pessoa real. No entanto, traz limitações severas como uma ferramenta prática. O ChatGPT, em geral, ainda não tem acesso à internet (e, na verdade, seus dados de treinamento param em algum momento de 2021), não foi projetado para lembrar consultas de uma conversa para outra, não é totalmente confiável em termos de fatos e só pode gerar uma única resposta para cada interação.

Qual o próximo passo? Pesquisadores e entusiastas de IA que aguardam a próxima fase do atual ciclo hype em torno dos chatbots começaram a se unir em torno de outra ideia: os chamados agentes de IA, softwares que se conectam a grandes modelos de linguagem, como aquele que alimenta o ChatGPT (e talvez outros vários serviços da Internet ou até mesmo métodos de pagamento), e, após receberem um objetivo atribuído por um humano, desenvolvem uma série de tarefas e as executam por conta própria, buscando alcançar esse objetivo.

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Isto sugere um futuro em que os agentes de IA poderão agir de forma autônoma na Internet, executando uma ampla gama de tarefas conforme acharem adequado. Aqueles mais entusiasmados com os agentes de IA os enxergam como o mais próximo, até o momento, de uma inteligência artificial geral, ou AGI na sigla em inglês,o objetivo há muito almejado de criar um software capaz de aprender e executar todas as tarefas intelectuais que um ser humano pode fazer.

O trabalho mais proeminente que emergiu foi o Auto-GPT, um projeto de código aberto gerenciado por Toran Bruce Richards, um desenvolvedor de jogos. Os usuários do Auto-GPT definem metas para o software, que então começa a executar as etapas para alcançá-las. Por padrão, o Auto-GPT solicita validação de seu usuário humano a cada passo do processo, embora seja possível conceder à IA uma espécie de permissão geral para avançar de forma autônoma.

Tornou-se uma tendência entre um certo nicho de indivíduos amantes de novidades, os chamados “early adopters”, postar exemplos de coisas mirabolantes que o Auto-GPT e outros agentes de IA já podem fazer. Um usuário conseguiu que um agente de IA conduzisse uma pesquisa de produto e resumisse uma lista dos melhores fones de ouvido do mercado. Outro criou uma empresa de calçados falsos e recebeu uma pesquisa de mercado para calçados impermeáveis. A pesquisa listou os cinco principais concorrentes e forneceu um relatório sobre prós e contras. O diretor executivo da HyperWrite, que oferece um plug-in de IA de assistente de escrita para o navegador Chrome, postou uma demonstração no Twitter mostrando como seu próximo assistente pessoal pode pedir uma pizza online da Domino’s.

Ao contrário do ChatGPT, o Auto-GPT não se destina ao usuário comum. Ele requer certo conhecimento de codificação para configurar, além de acesso às interfaces de programação de aplicativos da OpenAI, que permitem que os desenvolvedores criem programas de software que incorporem seus modelos de IA e cobrem taxas toda vez que esses modelos forem solicitados para executar uma ação. HustleGPT, um grupo na plataforma de mensagens Discord, inclui fundadores de startups em estágio inicial que utilizam as ferramentas para “tudo, do design de um logotipo até a criação de um site de marketing”, conforme relata Dave Craige, empresário que iniciou o grupo.

Assim como acontece com muitas demonstrações tecnológicas, provavelmente é melhor considerar com cautela qualquer afirmação sobre o desempenho dos agentes de IA e verificar a precisão de todas as informações que os agentes produzem. A Bloomberg Businessweek solicitou ao AgentGPT que elaborasse um plano para transformar US$ 100 no fundo Vanguard Total Stock Market Index em $1 milhão em 10 anos. O programa atribuiu a si mesmo uma lista de tarefas relacionadas à execução desse objetivo de investimento, que incluía pesquisar o desempenho histórico do fundo nos últimos 10 anos para estimar os retornos potenciais. Em seguida, apresentou vários planos com diversas etapas para alcançar esse objetivo.

Os planos em si, porém, eram severamente deficientes. A AgentGPT sugeriu que uma pessoa que investisse US$ 500 por mês poderia, se seguisse várias estratégias para reduzir as taxas e obtivesse um retorno anual médio de 7%, terminar com exatos US$ 1.031.906 após 10 anos. A calculadora de investimentos online em calculator.net determinou que este cenário resultaria no total mais modesto de cerca de US$ 86.000 no período fornecido.

Softwares como o Auto-GPT e o BabyAGI, outro agente de IA, estão “em seus estágios iniciais”, diz Matt Schlicht, CEO da Octane AI, que utiliza IA para implementar questionários de busca de produtos que marcas de comércio eletrônico podem usar para ajudar os clientes a decidir quais produtos comprar. “Portanto, se você olhar para isso como um produto isolado, ainda é um brinquedo, de certa forma”. Dito isso, em maio, sua startup lança seu próprio agente, o Insights AI, para analisar as avaliações dos clientes e ajudar as empresas com estratégia e criação de conteúdo.

De acordo com Henry Shevlin, especialista em ética de IA do Leverhulme Centre for the Future of Intelligence da Universidade de Cambridge, à medida que mais pessoas como Schlicht decidirem que os agentes de IA podem ser mais do que brinquedos e começarem a testá-los em situações do mundo real, a necessidade de políticas que regulem seu uso se torna mais urgente. “É improvável que as empresas demonstrem o nível de restrição que é desejável para a humanidade”, afirma.

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